terça-feira, 29 de julho de 2014

CANAIS DE IRRIGAÇÃO DO AÇUDE CEDRO EM QUIXADÁ-CE

A presente matéria foi extraída de um relatório de atividade de campo feita por uma equipe de alunos do Curso de Direito da Faculdade Católica Rainha do Sertão, na disciplina de Direito Ambiental (9º semestre), composta pelos alunos: FRANCISCO SARAIVA/ HUGO FERNANDES/ JOAQUIM NETO/ LUIS ANTONIO, que utilizaram-se de fotografias para registrar a atividade realizada, tendo início no nascedouro do canal principal, que fica na torre de controle de dispersão de água, localizada na parede da barragem principal do Açude Cedro, percorrendo do canal principal, e suas ramificações laterais, até as comportas distribuidoras (denominada pelos nativos de “repartidouro”), local aonde o canal se divide em dois: o canal norte e o canal sul, que formavam um perímetro irrigado na cidade de Quixadá.

Galeria principal de dispersão de água.
Não seria exagero dizer que os canais de irrigação visitados, e o próprio complexo do Cedro representa um dos primeiros grandes projetos de interferência do homem na natureza visando o desenvolvimento econômico no Brasil, levando-se em consideração que na época de sua construção, o seu objetivo era criar um reservatório de água, capaz de modificar aquela triste realidade em razão dos períodos de grandes secas que o Estado do Ceará passou, principalmente entre os anos de 1877 a 1879, onde cresceram na época os chamados “currais da fome” (era o local cercado com arame farpado aonde as pessoas flageladas eram aglomeradas como gado, e na saída recebiam mantimento, em geral foram criados para evitar que os vagantes chegassem até a capital, Fortaleza).
Segundo o historiador João Eudes Cavalcante Costa, em seu livro Retalhos da História de Quixadá, por todo o estado do Ceará, bem como em Quixadá, “... os gemidos da fome se tornaram tão fortes, não pela fortaleza dos que sofriam, mas pela quantidade, cada vez maior, dos que padeciam as agruras da terrível seca” (COSTA, 2002. Pág. 34), referido sofrimento, despertou o império adormecido, tanto é que existe a famosa frase atribuída a D. Pedro II, que ordenou: “Venda-se o ultimo brilhante da minha corroa, contanto que não morra nenhum cearense de fome”.
Nesse contesto foi construído o açude do cedro, com seus canais de irrigação, projetado inicialmente para irrigar uma área de 1.000 (mil hectares de terra), sendo que a sua construção levou 22 anos.
Ainda conforme constatação histórica em seu livro, João Eudes, atribui ao complexo do cedro e seus canais de irrigação, a própria expansão da cidade de Quixadá e o desenvolvimento da região: “... O açude do Cedro que representa um belíssimo cartão postal para quem nos visita, mostra a sua importância para um município, a quem norteou o caminho de seu desenvolvimento cultural e econômico..." (COSTA, 2002, pág. 63).
Segundo João Eudes, no auge de seu desenvolvimento impulsionado pela riqueza da água que se espalhava com abundancia e com aproveitamento planejado, Quixadá foi exportador de frutas, pois tanto do lado norte quanto do lado sul da cidade, havia grandes plantações de frutas e hortaliças, (locais hoje substituídos por grandes empreendimentos imobiliários), além do mais, nos arredores do açude do Cedro, existiam cerca de trezentos assentados ou como são denominados arrendatários.
Para se ter uma ideia da dimensão e da importância do açude Cedro e seus canais de irrigação para a região, no ápice de seu desenvolvimento econômico, Quixadá se tornou o maior produtor de algodão do nordeste, concentrando grande poder econômico com a abertura de fabricas de processamento de derivados do algodão, o chamado “ouro branco”, conforme João Eudes, que também foi funcionário do Banco do Brasil, o banco chegou a aportar cerca de 10.000 (dez mil) financiamentos agrícolas para a região.
Além do mais, o complexo do Cedro se insculpiu nas próprias formações rochosas, e seu impacto ambiental embora não tenhamos encontrado registros, dada a situação e o período de seca, é possível deduzir, que qualquer impacto ambiental causado pela construção da referida obra, certamente melhorou e potencializou a fauna e flora existentes, além do mais, aos que observam, o açude do Cedro se incorpora a beleza do local, formando um par perfeito com a "galinha choca".
No complexo do Cedro, também se desenvolveu o primeiro horto de reflorestamento do nordeste, onde posteriormente foi criado o órgão denominado ACOCECE, e após um ano de funcionamento do horto, já dispunha de 104.255 exemplares das diversas espécies selecionadas para reflorestamento (utilizada principalmente por onde se instalava a estrada de ferro no Ceará).
Pode-se concluir que o açude do Cedro foi e ainda é um grande potencial para o desenvolvimento da região, representando não só uma relação de preservação do meio ambiente (fauna e flora), pois trouxe água de forma abundante garantindo maior viabilidade, mas foi essencial para o desenvolvimento sustentável da cidade de Quixadá e da região, em uma época em que preservação do meio ambiente não tinha a conotação atual, mas que possibilitou a própria existência e sobrevivência dos sertanejos tão castigados pela seca que se beneficiaram com a sua construção.
Canal principal

Desta forma, utilizando-se das palavras do historiador João Eudes Cavalcante Costa, “não haverá valor maior para a região nordestina do que a contenção das águas e o seu aproveitamento racional em benefício de todos que se dedicam às atividades rurais no polígono das secas”e completa:

Valeta distribuidora


"... a irrigação provou, através do Açude do Cedro, que será a redenção de um povo, que não pode continuar escravo dos caprichos de quem o governa e daqueles que o querem dependente. Assim, será muito mais fácil tangê-lo para os humilhantes currais eleitorais, onde ferrado como animais, coagido e obrigado a manter, no poder, os incompetentes e corruptos, políticos profissionais, escravocratas do ideal de um povo..." (COSTA, 2002, pág. 63)

Vista da parede da barragem principal
Concluindo com o desabafo:

“... Para o turista que não tem obrigação de conhecer a nossa história, até que se admite ignorar o que aquele reservatório representou para Quixadá. Na realidade, a visão do açude do Cedro é encantadora e deixa embevecido o visitante.
Enquanto para os quixadaenses, o desconhecimento da influência do Cedro para o nosso desenvolvimento e o que ainda representa para que Quixadá permaneça entre as mais importantes cidades do Estado, é imperdoável”, (COSTA, 2002, pág. 53)

Torre das comportas

DADOS DO RESERVATÓRIO

Capacidade...................................... 125.694.200 m3
Profundidade máxima.............................16 metros
Profundidade média...............................6,3 metros
Área da bacia hidrográfica.......................210 km 2
Área desapropriada da b. hidráulica......6.700 ha
Parte submersível da b. hidráulica..........2.180 ha
Contorno da bacia hidráulica.......................91 km



DADOS DA IRRIGAÇÃO
Extensão dos canais principais...............................................................................14.570 metros
Extensão das derivações de primeira ordem..........................................................16.570 metros
Valetas distribuidoras.............................................................................................43.930 metros
Extensão da área irrigada..................................................................................................500 ha
Extensão da área irrigável..............................................................................................1.000 ha

Outro trecho do canal principal

Comportas distribuidoras (norte e sul) "repartidouro"

Comportas distribuidoras (norte e sul) "repartidouro", visão invertida.
Historiador João Eudes com integrantes da equipe de pesquisa
Todas os dados apresentados tiveram como orientação o Livro Retalhos da História de Quixadá, e complementados em conversa direta com seu autor, o historiador João Eudes Cavalcante Costa, um quixadaense apaixonado por sua terra, a quem agradecemos por suas valiosas informações, bem como ao professor de história e radialista Amadeu Filho, por sua contribuição em possibilitar o encontro da equipe com o referido historiador.<>


CONSTRUTORES DE QUIXADÁ<> JOÃO RICARDO SILVEIRA<>O TRABALHO E A EDUCAÇÃO DOS FILHOS EM PRIMEIRO LUGAR

<>Razão tem até demais o escritor João Eudes Cavalcante Costa, ao afirmar categoricamente que,  quixadaense não é apenas aquele nascido na terra dos monólitos, mas também, os que contribuíram, de forma marcante, para o engrandecimento da bela cidade. Encaixa-se, perfeitamente, neste perfil, o comerciante e produtor rural, João Ricardo da Silveira, nascido em Pacoti, cuja beleza teria inspirado o poeta João Gonçalves Dias, muito antes de se tornar município, no século 18, levando-o, como creem alguns historiadores, a criação dos imortais versos:"Não permita Deus que eu morra/Sem que volte para lá/Sem que desfrute os primores/Que não encontro por cá/Sem qu'inda avista as palmeiras/Onde canta o sabiá/. Filho de Antônio Ricardo Silveira e Apolônia Apolinária Silveira, nasceu no dia 01 de maio de 1907. Seguindo os passos do pai, logo demonstrou interesse pela atividade agropecuária, considerada a mais poderosa locomotiva do progresso brasileiro. Em 1935, com 28 anos, veio morar em Quixadá, aonde, com certeza, poderia desenvolver suas atividades e cuidar do futuro das crianças. Apesar da grande vocação para o comércio, a preocupação com a educação dos filhos afetava o coração de João Ricardo. O aprendizado dos filhos sempre foi, aliás, o objetivo  primeiro do casal.                                                                                                                                                                                                                       Inicialmente, um armazém de cereais foi sua primeira atividade na cidade. Amável no trato com as pessoas, logo conquistou um grande número de fregueses e amigos. Abastecia uma grande parcela do comércio varejista, o que permitiu-lhe comprar algumas propriedade rurais. Conhecendo, aprendera com o pai, a trabalhar na agropecuária, sabendo da importância da água e do solo, recursos naturais indispensáveis para esta atividade, comprou fazendas em espaços que permitiam a criação de rebanhos, mesmo em tempos de ausência de chuvas. A proximidade com o rio Banabuiú, permitiu que as fazendas apresentassem ótima colheita agrícola, a formação de um expressivo rebanho, tanto para o corte, como para a produção de leite. Preocupava-se com a situação de seus colegas pecuaristas e para tanto, foi criada uma cooperativa com o objetivo de defender os seus interesses. A terra dos monólitos conquistou o bom homem que ficava feliz com o progresso da bela cidade.                                                                                                                                                                                                                           João Ricardo é pai de Ednardo, Everardo, João Bosco, Edvaldo, Eunardo, Ednilson, Ednildes e Ednilce. Faleceu em 5.12.1986, deixando em seu convívio, entre nós, um rastro luminoso. Lembro que, ainda criança, na bodega do meu pai no velho mercado, João Ricardo fazia as compras e dizia: "Seu Amadeu, minha maior alegria é que meus filhos estudam em bons colégios da capital!!"É Por isso e muito mais, que permanece vivo nas lembranças dos filhos, que o amam muito, e claro, também na saudade dos incontáveis amigos. Não há nenhuma dúvida: "JOÃO RICARDO SILVEIRA É UM DOS CONSTRUTORES DE QUIXADÁ" -                                                                                                            .............................................   ..................................................  .....................................................                                        

quarta-feira, 23 de julho de 2014

WAL TAVARES A MURALHA QUE A TORCIDA QUIXADAENSE NÃO ESQUECE

WAL: A muralha
 <> Numa linda tarde dos anos 60, na rua Tenente Cravo(conhecida como rua do prado) e onde dizem que as estrelas são mais bonitas, o casal Francisco Tavares e Maria Teresa acompanham num velho rádio "Semp", o jogo final da copa do mundo de 1962, no Chile. Como um foguete, um menino entra na sala e dispara: "Papai, Mamãe, quando crescer, quero ser igual ao Gilmar". Fransquinho Tavares então falou que, para ser um grande goleiro, como o da seleção brasileira, tinha que estudar muito e nunca faltar as aulas do Colégio do Padre. Este garoto era Francisco Edwaldo Freitas de Sousa, o WAL, que viria a se tornar um dos grandes goleiros do futebol cearense, tendo brilhado no Quixadá Futebol Clube, Icasa, Guarany e foi também, ídolo no futebol de salão, defendendo as cores do Balneario, Penarol(comandado pelo Célio Oliveira),  Tiro de Guerra(time formado pelo sargento Paulo). Mas WAL não começou atuando como goleiro. No campo do Via Férrea, jogava na zaga da equipe do Santos, time montado pelo hoje comentarista, Everton Lopes. Um dia, o goleiro Farinha faltou ao treino do time do Quartel e o Sargento Moésio mandou aquele adolescente ficar no gol com a recomendação de que não poderia falhar. Para surpresa de todos, WAL fechou o gol, pegou todas. "Não deixou passar nem mosquito", como se dizia naquele tempo. Aos 16 anos, foi convidado por Manuel Bananeira(seu grande professor) para jogar no Balneário. Neste grande time de nosso salonismo, encontrou grandes goleiros como Valdenir, Lamartine e Marco Aurélio. Jogou ao lado de outras feras, como Camurça, Romero Filé, Genésio, Zé de Barros, Helano, Tim, Blasco. WAL sagrou-se 8 vezes campeão municipal, defendendo o clube alvi verde. Nunca esqueceu um presente que recebeu de seu querido pai, Fransquinho Tavares, ainda criança. Foi uma camisa, toda preta, mangas cumpridas, número 1 nas costas. Seu pai era grande admirador do goleiro Lev Iashin, conhecido como "aranha negra", da URSS. Nos botequins com os amigos, comentava ser pai de um garoto que um dia seria um grande goleiro e igual ao "aranha negra".
                                               Convidado por José Abílio, passou a defender o Quixadá Futebol Clube, um grande sonho. O presidente o viu atuando na escolinha do Bangu e equipe do 13 de maio(equipe dirigida por Joaquim Barbosa) e não teve dúvida em levá-lo para o canarinho. Encontrou no técnico Freitinhas, o apoio necessário para seu novo momento. Com 17 anos, já era goleiro de uma equipe profissional. Mas esperou algum tempo para se firmar como titular e ganhar a confiança da torcida. Lá encontrou alguns atletas amigos como Tomé, Helano, Lucivaldo, Zenóbio, Romero Filé, Airton, Gaguinho e outros. Estreou no gol do Canarinho, numa partida amistosa contra o Ferroviário. Em jogo oficial, sua estréia foi em Juazeiro do Norte, contra o Guarani, entrando no decorrer da partida. O seu jogo inesquecível foi aquele em que defendeu um Pênalti, já nos acréscimos, num jogo memorável contra o Ceará. O time da capital precisava vencer para chegar a final do certame cearense e teve esse pênalti à seu favor, numa marcação duvidosa da arbitragem. A consagração do goleiro foi ainda maior porque este jogo era o de número 13 da loteria esportiva. WAL foi escolhido o melhor da partida e foi destaque em programas da "TV".
                                               Atualmente, WAL é professor de Educação Física, exercendo a atividade em diversos estabelecimentos escolares da terra dos monólitos. É casado com a professora Goréti Guerreiro e desta união nasceram os filhos Bruno e Victor, seus maiores tesouros. Sempre lembra com muita saudade dos queridos irmãos Professora Júlia, Eduardo e Ednardo, hoje todos morando com Deus. O ex craque lembra que os maiores goleiros que já viu atuar foram Lulinha, Hélio Show, Manga, Gilmar, Mundinho e, principalmente, Mafia. Torcedor fanático do Botafogo, acompanha todos os jogos do seu querido alvi negro. Ainda hoje, se emociona quando um torcedor o reconhece na rua e fala: "Você foi aquele goleiro que pegou pênalti contra o Ceará!". WAL não perde um só jogo do Canarinho e torce durante os 90 minutos. Seu grande sonho é a criação de um espaço para divulgar a história do futebol quixadaense. Não há como negar, WAL foi um grande ídolo da torcida canarinha! E dela ganhou o apelido carinhoso de "A Muralha".

WAL no Quixadá F.C de 1984- é o último da esquerda(em pé)
O maior tesouro, a família. Bruno, Goréti e Victor

WAL também brilhou no salonismo

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