quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

<>PADEIRINHO-- UM TRABALHADOR DE RUA DA TERRA DOS MONÓLITOS QUE É UM EXEMPLO DE SUPERAÇÃO, AMOR AO TRABALHO, A FAMÍLIA E AOS AMIGOS

Padeirinho- De vaqueiro a trabalhador de rua
<>É possível que alguém atribua o fato de algumas pessoas trabalharem nas ruas porque fracassaram em outras atividades. Os mais exagerados em suas ironias, chegam a afirmar que eles não souberam abraçar as oportunidades que apareceram. Na maioria dos casos, é a ausência de ofertas de empregos ou pode ser mesmo a falta de qualificação para o exercício de determinada função. E quando alguém vai para as ruas por ter sofrido algum acidente e a tão sonhada aposentadoria demora a chegar? Um destes exemplos é o senhor José Barbosa dos Santos, o popular Padeirinho, que de segunda a sábado, pedala com dignidade  na sua bicicleta, companheira de todo dia, e enfrenta uma rotina cansativa que começa às cinco da manhã, vendendo sucos e salgadinhos por toda a cidade. Os salgadinhos ele pega com uma senhora lá no balão, enquanto os sucos são preparados pela dedicada esposa Madalena que conheceu quando trabalhava para a senhora Lúcia Adolfo, produzindo bonecas e outros produtos. A sua esposa é filha da folclórica senhora Esmeralda que alegrava as pessoas tocando berimbau em diversos espaços da cidade, em especial no mercantil da família da dona Moura. São pais amorosos de Felipe, Albano e Diana. Ficou conhecido por Padeirinho, pois trabalhou em algumas padarias da terra dos monólitos. Quem vê-lo passando com aquele ar de seriedade e honestidade, nem imagina que ele foi um homem do sertão,vaqueiro destemido, tendo trabalhado em várias fazendas da região. Nas atividades do campo se destacou por saber lidar com os animais e com as demais necessidades próprias do setor agropecuário. Padeirinho atendia os seus fiéis fregueses, na maioria das vezes, também, trabalhadores das ruas como ele, nos aproximamos e ele deu uma paradinha para conversar. Com uma saudade presente nos olhos, falou que foi um vaqueiro dos bons, amansava burros metidos à valentões, construía cercas e muito mais. Só ficava triste quando faltava água e precisava conduzir o gado até  lugares distantes para eles matarem a sede. Quer saber mais? Bati muito enxada no chão e os roçados que cuidava eram os mais bonitos de toda a região. Aboiava também, fui verdadeiramente um homem sertanejo. Esta minha roupa que uso agora é tão diferente do gibão, peitoral, chapéu de couro que usava quando trabalhava nas fazendas. Conta que deixou de trabalhar no campo ainda muito jovem motivado por um acidente sofrido na mão direita devido ao mau funcionamento de uma máquina forrageira na quebra do milho. Acabou ,naquele momento, meados dos anos 70(século passado), o seu trabalho nas fazendas que gostava até demais. Foi atendido em Fortaleza, voltou para Quixadá, mas agora teria que trabalhar em outras atividades, pois não conseguiu uma aposentadoria tendo sofrido muito com isso. Passou ,então, a vender pão pela cidade e devido sua simpatia e honestidade fez muitas amizades. Lembra demais quando pegava os pães na padaria do senhor Moacir de quem se tornou grande amigo, tendo também trabalhado na panificadora de propriedade do senhor Daphnis por algum tempo, com a senhora Graça, na padaria do João Viana e ainda, a de propriedade do Chiquinho, onde encontrou todo o apoio e trabalhou por cinco anos, tendo gozado de toda a confiança da família do mesmo e solidariedade por parte do Marivaldo e os outros irmãos que sempre o valorizaram bastante. Recorda com uma saudade danada quando vendia pães as amigas Elba, Itamar, Zenir, Robéria, moradoras do sítio das Lilinhas, hoje, o bairro Baviera. É bonito ver Padeirinho e outros trabalhadores de rua dando vida, alma e até poesia a esses espaços, onde muitas vezes a violência está presente.  O trabalho desta gente engradece uma cidade e a eles deve ser dada todas as condições para que possam manter sua famílias. Só o fato de enfrentarem a luta pela sobrevivência têm multiplicado o seu grande valor. Que nunca seja tirado desta gente o sagrado direito de trabalhar com total liberdade. Esses trabalhadores são sempre gentis até mesmo com aqueles que não lhe dão o verdadeiro valor. Mas, o valor desta gente é imenso. Ao chegar em casa, depois de um dia cansativo de trabalho, Padeirinho tem abraços da Madalena, dos filhos e o latido da cachorra Rainha.    
Padeirinho e sua bicicleta, companheira inseparável
José Barbosa dos Santos é o nome de batismo

Padeirinho e seu anjo da guarda Madalena
Tem saudades quando trabalhava no campo
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