terça-feira, 7 de abril de 2015

MÁRIO BERTOLDO DO CAVAQUINHO(10)- UM SÍMBOLO DA RUA DO PRADO(Tenente Cravo)

Mário: nua vida simples, um grande exemplo de dignidade
<>Ali, pelos anos 30, um menino escapava da vigilância dos pais João Bertoldo e Maria Madalena, seguindo até a estação ferroviária, aonde aconteciam o pernoite de trens. Vários funcionários da extinta "RFFESA" como maquinistas, condutores, guarda freios, ficavam até as primeiras horas da madrugada, improvisando uma seresta, cujo único instrumento  era um cavaquinho, tocado por um dos funcionários. Aí estava a razão da escapada do menino Mário. Ele queria ver(ver muito) e ouvir aquelas notas musicai que adorava, apesar da pouca idade. Fez amizade com os maquinistas Diaquino, Seu Mundico, Antônio de Oliveira(pai de José Limeira, folclórico torcedor do Ferroviário), Manoel Paiva, Antônio Mourão e outros. Com o tempo, João Bertoldo(também funcionário da extinta empresa), permitiu que Mário pudesse ficar algum tempo na companhia desta boa gente. Foi ali, no velho galpão ou na estação de passageiros que teve o primeiro contato com o instrumento. Certa vez, era 25 de dezembro, o menino se afastou e foi até o curral, próximo à estação e chorou copiosamente. O maquinista Chaga de Aquino que, várias vezes deixou o menino passear na maria fumaça, quis saber o porquê daquele choro. Mário falou que fizera um pedido a papai Noel de um cavaquinho e não foi atendido. "Nem todo mundo é filho de papai Noel, pequeno Mário!", explicou o bom amigo, garantindo que ele iria crescer, trabalhar e realizar seu sonho, comprando aquilo que, para ele, significava felicidade. Foi o próprio Mário  Bertoldo Nunes(nascido em 3.01.1921) que nos prestou essas informações em um dos programas da "Rádio Cultura". Falou que não sabia explicar o motivo deste encantamento. Ainda adolescente, já realizando alguns trabalhos, comprava discos de Valdir Azevedo, Demônios da Garoa(onde se destacava o cavaquinho de Roberto Barbosa). Na juventude, chegou a integrar grupos musicais, como por exemplo, o regional de Zé Raimundo que tinha ainda como músicos, Alcides, Vinícius, Zé Mário. Um de seus professores que o levou a tocar com eficiência foi o amigo Chico sabiá. Quem passava pela rua do Prado(como chamavam a rua Tenente Cravo), com certeza, se deparava com aquele simpático senhor e seu inseparável cavaquinho. Mário Bertoldo era um símbolo daquela rua(para seus moradores, a mais bonita da terra dos monólitos). Naquele espaço, a vida parecia ser sempre uma festa! Famílias conversando nas calçadas, até tarde da noite. Nas novenas, os pedidos para boas chuvas, saúde e ,vez por outra, felizes casamentos. Nos serviços de alto falantes de Zé do Santos e Paroara, a voz possante de Nelson Gonçalves lembrava aos jovens apaixonados que "Nem sempre o primeiro amor é o primeiro namorado!". Mário estava sempre  acompanhado e, em especial,  do amigo(aquele certo das horas incertas), Vicente padeiro. Parte de sua juventude, Mário passou em Fortaleza, integrando os quadros da guarda civil. Vindo definitivamente para a terra dos monólitos, começou a exercer atividade comercial. Por toda a década de 60, montava sua banquinha num terreno, aonde hoje existe o calçadão, proximidades da câmara municipal. O filho caçula Hélio(hoje, professor de reconhecida competência), era o responsável pela montagem das barracas que protegia da chuva os produtos expostos à venda. Tempos depois, começou a trabalhar no centro telefônico da cidade que permitiu o contato com os distritos,  à época do prefeito José Linhares da Páscoa(25.03.1967-25.03.1971). Convidado pelo amigo Dário Alves Cidade, ficou responsável pelo setor de vendas de bebidas da "AABB",tendo como colegas de trabalho, Chinês, Miúdo, Queixinho, Zé Cachorro. Seu último trabalho foi no restaurante "O Helano", tendo se destacado pelo bom atendimento aos clientes. No começo dos anos 90, o doce Mário começou a apresentar problemas de saúde, culminando com a amputação de uma perna. A dedicada Antonia Teixeira Nunes(esposa e amiga), junto aos filhos Hélio, Hélia, Ecinho, Célio, Helena, Antônio, Elza, Elinalda e Anita, tudo fez pela recuperação de Mário. Segundo a filha Hélia, o seu pai nunca perdeu a alegria de viver e nem deixou de tocar o seu cavaquinho. No dia 19 de maio de 1998 o querido quixadaense morreu, deixando uma grande saudade nos familiares e amigos. Com certeza, sem Mário e seu cavaquinho, a rua do Prado(Tenente Cravo) nunca mais foi a mesma. Ele, em toda a sua existência dedicou-se ao trabalho, à família, aos amigos e deu mostras de como viver com dignidade.

O filho professor Hélio e o neto Miguel
1976- Mário sempre cercado de amigos
Antônia Teixeira Nunes-Mário foi e sempre será o grande amor da minha vida

Célio e Hélia, filhos não esquecem o querido pai