segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

<.CURTUME BELÉM- UMA ETERNA SAUDADE DE EDGAR LIMA E SILVA

Edgar, aos 18 anos entrou para o Curtume
<>Numa tarde de Fevereiro, ano 1996, devorava o "Jornal do Leitor", do matutino "O Povo", e me interessei por um texto do professor Gilberto Telmo Sidney Neto, destacando, de forma brilhante, o florescimento de uma próspera indústria de transformação: O Curtume Belém. Localizava-se  na terra dos monólitos, na rua da Palha, às margens da via férrea. Nas décadas de 50 e 60 era o motor do nosso desenvolvimento. Depois daquela leitura, e agora sabendo da importância daquela  indústria, nos sertões do interior cearense, me dediquei a localizar, num ritmo frenético, os quixadaenses que  trabalharam ali. Às vezes, passava a impressão de estar procurando pessoas desaparecidas. Foi(e é), muita dedicação. E olha, nem contávamos ainda com a força das redes sociais. Mas, muito interessante nesta busca, é que ela não se torna conclusiva. É que, sempre aparecem nomes. E, certamente, com o surgimento deste texto despretensioso, aumentará a nossa lista. Então, vejamos alguns: José Raimundo, Edgar, Chico Nascimento, Chico Alves, Medeiros, Nonato, Zé Albano, Raimundo Bezerra, Paulo Camilo, Pedro Nunes, Pedro Rufo, Xavier, Raimundo Jorge, Feliciano, Zezé do doutor, Manoel Raimundo, Aloísio Moreno, Cícero Moreno, Cazuza, Raimundo do Ancelmo, Raimundo Cândido, Pedro Monte, Chico Eliseu, Dedé Preto, Bidida, Pio, Natália, Albetiza, Eunice, Maria Dias, Luiza Dias, Amelhinha, Nousinha, Inacinha, Chico Nobre, Zé Preto, dentre outros. Alguns, já morreram e, com certeza, outros moram em outras partes do estado e fora dele. Impossível o contato com todos e, tendo a oportunidade de conversar com alguns poucos, é possível um conhecimento mais amplo sobre a História do Curtume. Edgar Lima e Silva, se emociona ao lembrar daqueles anos de um Quixadá, pequeno ainda, mas, com uma indústria que exportava couro para o estado, todo o país e até para fora dele. Sempre simpático, nos recebeu com ares de um professor, logo perguntando: "Você sabe o que é um curtume?"
Nesta casa funcionou a escolinha dos filhos dos operários
E tratou logo de informar que era um local onde, se processa o couro cru. Lembra que tinha 18 anos, servia o Tiro de Guerra e que"Naqueles tempos, todos tinham que trabalhar". Foi através de seu pai, José Raimundo, vigia, que conseguiu o emprego com o Senhor Zé Capelo, proprietário do Curtume. Começou trabalhando na sessão de curtimento do couro mas, honesto e dedicado, foi assumindo outras funções. O trabalho começava às 6:30, em ponto. Às 11 horas, a caldeira apitava para o almoço e o retorno acontecia às 12:30, se estendendo até 17:30. Aos sábados, os operários recebiam os envelopes com os respectivos pagamentos. Nos lembra Edgar que, à exceção do trabalho no escritório, os operários executavam as tarefas, trajando apenas um enorme calção, feito de sacos de açúcar, comprados no velho mercado. Grande parte das mulheres, trabalhavam na vaqueta, ou seja, couro curtido, próprio para a fabricação de bolsas e calçados. A estrutura física da indústria era formada por várias colunas, muitas paredes, alguns tanques e as máquinas utilizadas na produção. Havia um açude próximo a sede. Quando este secava, carros pipas abasteciam o Curtume. A água era retirada de um cacimbão, situado no sítio da dona Robéria e  também do rio Sitiá que, naqueles anos, corria bonito, por toda a cidade. Os carros tinham como motoristas, Zé Maria e Antônio Caetano. Nos conta o ex operário que no ano de 1964, o inverno foi muito forte, com a água invadindo o espaço de trabalho. Um caminhão, dirigido pelo Argemiro e que conduzia uma carga, contendo couro, atolou-se na velha ponte da Ruinha. Os dedicados operários tiveram que se virar, pois aquele material, deveria chegar na sede. Edgar lembra que até um "trolley" foi solicitado a "RFFSA" para ajudar no transporte do couro. Edgar se emociona ao falar da senhora Fernanda, uma espécie de mãe dos empregados. "Ela se preocupava com nossa alimentação, nossa saúde, com o estudo de nossos filhos. Às vezes, nos dava até dinheiro para comprar roupas no armazém do Senhor Expedito". Em todos os natais, Seu Capelo nos levava para a fazenda Urucu. Todos juntos, os funcionários e sua família. Lá para o final da década de 60, os problemas tiveram início, ocasionando o fechamento do curtume. Seu Capelo, sempre preocupado com a situação dos operários, fez um acordo com todos eles. Hoje, o Curtume Belém é uma doce recordação na vida do aposentado Edgar Lima e Silva. Foram os melhores anos de sua vida. Há alguns meses atrás, Edgar, com uma saudade muito forte, foi visitar as ruínas das paredes de entrada da indústria, na rua da Palha, próximas ao trilho mas, não encontrou mais nada. Tudo já havia sido destruído. Só resta a Edgar curtir as velhas fotos e rezar, segurando uma medalhinha que lhe fora presenteada pela dona Fernanda, que lhe dissera, naquela ocasião: "Reze sempre para Nossa Senhora! Ela é mãe de todos nós!"

<>Nota do autor: Este texto não tem caráter histórico mas afetivo. Mas pode servir como "mote" para
que, juntos, possamos ter um conhecimento melhor desta referencia econômica de anos passados, em nossa bela Quixadá.
Edgar não esquece o "Curtume Belém"

Original do acordo feito entre Edgar e o Curtume Belém