sexta-feira, 27 de julho de 2018

JOSÉ LINHARES DA PÁSCOA- A VITÓRIA DO TOSTÃO SOBRE O MILHÃO!

Páscoa-na galeria dos grandes prefeitos
 O ano, 1967. O Brasil vivia sob o regime militar. Castelo Branco cumpria seus últimos dias à frente do governo. Marechal Artur da Costa e Silva o substituiria  na presidência. As massas populares ficavam excluídas da vida política e social. Numa bela cidade encravada no sertão central do Ceará, o povão resolveu  por conta própria fazer diferente. E o fez! E fez bonito! Numa das mais disputadas eleições que se tem notícia no interior, o candidato das massas populares, dos "lisos" no bom "cearensês", conseguiu derrotar o candidato apoiado pelas elites, os "forrados", vocabulário pertencente a mesma categoria. Nem o mais acreditado analista político daquele momento, admitiria o fato. Mas quem foi este cidadão que deu ares rebeldes a terra dos monólitos? Quem era este "Zé Povão"? Seu nome, José Linhares da Páscoa. Foi  ele, foi ele sim, que derrotou o candidato apoiado pelas principais lideranças locais, o respeitado médico Everardo Silveira. Durante muitos dias, os eleitores do candidato vencedor comemoram a vitória. Alguns, portando moedas coladas à roupa. Numa atitude ainda hoje, enaltecida por todos, Everardo  foi cumprimentar o vencedor na sua própria residência. Naqueles tranquilos anos os políticos não eram inimigos mas apenas adversários. Aquela histórica eleição foi marcada pelo mote da campanha de José da Páscoa "O TOSTÃO CONTRA O MILHÃO".  Segundo o memorialista João Eudes Costa  foi uma das melhores administrações já realizadas em Quixadá pois priorizou às áreas da Saúde(construção do hospital, por exemplo). Na educação, merece registro a construção do "Ginásio Municipal", a instalação de uma biblioteca pública, novas escolas nos distritos.Mas o candidato do povo  também executou outros benefícios que ainda nos dias de hoje fazem parte da vida da população. Gostava de esportes e fez vários melhoramentos no estádio Luciano Queiroz(hoje, Abilhão) como a construção de arquibancadas de cimento, túneis e alambrados. Na sua administração foi construida a Avenida Plácido Castelo com 1400 metros de extensão que mudou o perfil urbano da bela cidade. Tornou possível uma fácil comunicação entre a cidade e os distritos com a criação de um centro telefônico Interdistrital. Marcou de forma irreversível seu nome na cultura local pois reorganizou a banda de Música Municipal que se tornaria um símbolo da terra dos monólitos. Merece destaque a construção de 3.678 metros de esgoto beneficiando diversas ruas de nossa cidade. José da Páscoa não participava apenas da vida política da cidade e sempre gostou de estar perto dos amigos não importando classe social. A sua presença era sinal de que a alegria estaria presente pois gostava de contar causos engraçados que a todos faziam rir. O seu lugar favorito era estar no coração das pessoas e tinha a capacidade de transformar lugares comuns em extraordinários encontros.  Mas o tempo que a tudo apaga e destrói, não permitiu que o revolucionário cidadão voltasse a vencer no jogo eleitoral. Tentou ser deputado estadual e por duas vezes tentou voltar a Prefeitura, não obtendo êxito. Mas, o seu nome ficou marcado para sempre em nossa história como o "O candidato das massas. José Linhares da Páscoa morreu em 25 de agosto de 1995 em Fortaleza. Mesmo tendo nascido em Ubajara, seu último pedido foi atendido: ficar para sempre na terra que tanto amou. A terra dos monólitos o adotou como um filho muito querido e em sua homenagem temos a praça José Linhares da Páscoa numa proposição do vereador Carlos Augusto Vitorino Cavalcante e sancionada pelo prefeito Hilário Marques(1996). A vida deste ser humano maravilhoso foi um exemplo de decência, honestidade, caráter e espírito de luta. Uma de suas grandes marcas era sempre ter respeito com o   adversário político sem jamais denegrir sua imagem.  Quando necessário, tomava as decisões que achava as mais corretas mas sem jamais ferir os que trabalhavam com ele. Não há dúvida de que seu nome está na galeria dos grandes prefeitos cearenses. Pai amoroso, dividia com sua deusa Neci Páscoa a responsabilidade na condução de um lar repleto de um verdadeiro amor.  Como não existe uma grande preocupação com a nossa memória, os mais jovens, quase não sabem da existência desse notável homem. Mas fiquem sabendo ,caros moços, que este cidadão  foi um exemplo! E quando perguntarem a vocês, aonde nasceram? Respondam com altivez: "Sou da terra em que o tostão venceu o milhão!"


Busto do benfeitor na praça que leva seu nome

Páscoa gostava de conviver com os amigos

quinta-feira, 5 de julho de 2018

ALMIR DA SORVETERIA- HÁ QUASE 50 ANOS ELE É CONSIDERADO O REI DOS PICOLÉS. O SEGREDO DO SABOR ELE NÃO CONTA PARA NINGUÉM

              Ali pela metade dos anos 60(século passado) um menino muito esperto se aproximou do balcão da icônica sorveteria  do Nivaldo e pediu ao bondoso Paisinho(Francisco Paes de Oliveira) que lhe desse um picolé quebrado(aqueles que não servem para ser vendidos) e ouviu dele: "Vou lhe dar um de verdade, dos bons da casa e você irá entregar umas compras lá em casa. Feliz como toda criança parece sempre estar cumpriu com ar de gente grande aquela missão que lhe fora confiada. E assim, todos os dias o garoto executava esta tarefa e agora já atendendo outras pessoas da família como o Senhor Nivaldo que lhe confiou a entrega de bolos, uma das especialidades daquele tradicional comércio. Nivaldo logo percebeu nele uma vontade enorme de trabalhar e ajudar em casa. Mesmo ainda um garoto queria ajudar em casa pois seu pai abandonou a família e sua querida mãe teve enorme dificuldades no sustento das crianças. Depois de algum tempo, Nivaldo chegou para ele e lhe deu a notícia de que  iria trabalhar na lanchonete. O menino José Almir Pereira da Silva ficou muito feliz e falava para os seus amigos das horas das brincadeiras: "Agora vou ajudar minha mãe Feliciana, ela e meus irmãos! Tudo que ganhar é para eles!" Era o ano de 1972 e a sorveteria do Nivaldo já fazia enorme sucesso sendo frequentada pelas famílias quixadaenses não importando classe social. Foi a partir do ano de 1966 que o frequentado ponto comercial iniciou suas atividades. Significa então dizer que o Almir ali trabalha há exatos 42 anos. Começou atendendo no balcão mas em pouco tempo, foi aprendendo a preparar os picolés e sorvetes tendo como professores o Coã, André e Hélio que lhe repassaram os segredos do preparo daqueles produtos. Depois de alguns anos, o Almir passou a executar as tarefas sozinho e cada vez mais conquistando a confiança dos proprietários. Chamava a atenção o sabor, o gosto que o Almir conferia aos picolés. Como sempre lembra o professor Davi, até hoje não se sabe o segredo daquele sabor especial. Dizem(Almir não confirma) que a fórmula usada no preparo só é do conhecimento de 3 pessoas. Verdade ou não, o certo é que até os dias de hoje aquele espaço é bastante frequentado, seja por filhos da terra dos monólitos ou de outras localidades. Por fim, sabemos que o calor é persistente na bela Quixadá e então, sorvetes, picolés sempre foram bastante consumidos.  Quando Almir iniciou seu trabalho, a sorveteria vivia o que podemos chamar de   embriaguês do sucesso. Depois do expediente de trabalho, era tempo de curtir os saborosos picolés acompanhado de uma boa conversa nas dependências daquele espaço que não era apenas comercial mas também um encontro de amigos e de jovens enamorados. Ali, foram gastas a mocidade de muita gente que  se divertia e ficava feliz ao ser atendida pelo bondoso Geraldo, o dedicado Nivaldo, o novato Almir e toda a equipe. Estávamos nos inesquecíveis anos 70 e aquela sorveteria era frequentada até pelas autoridades do município. Vereadores  como Adauto Lino, Francisco Brito, Agenor Magalhães, Raimundo Nobre, Geraldo Alves, Zilcar Holanda, Samuel  e outros conversavam sobre os problemas da cidade mas sem deixar de elogiar os gostosos picolés que pareciam ter sido preparados no céu. Bom lembrar que naqueles anos  foi inaugurada a nossa rodoviária e ao término das festividades, deu-se quase uma invasão a sorveteria com muita gente lanchando ou curtindo os já consagrados picolés. Naquele tempo na nossa bela Quixadá havia um campeonato interdistrital que movimentou os desportistas locais. As equipes vencedoras foram Rinaré e Custódio e logo depois do jogo final no estádio municipal, atletas e torcidas foram comemorar no popular espaço. Na atualidade, mesmo com o crescimento enorme de nossa atividade comercial, a sorveteria do Nivaldo continua na crista da onda. Hoje no comando está Fred Capistrano que faz questão de manter o mesmo padrão de qualidade.  O segredo para esta longevidade muitos creditam aos picolés preparados pelo Almir e durante algum tempo corria o boato pela cidade que aquelas barrinhas de gelo davam muita sorte no amor o que certamente fez com que muitos enamorados frequentassem aquele aprazível local. Almir ri muito quando se fala nesta possibilidade e garante que o grande diferencial é a seriedade no trabalho, a forma como são preparados. Tem doces recordações de quando entregava os picolés para aqueles trabalhadores ,sempre honestos, que saiam naqueles bonitos carrinhos e vendendo picolés por toda a cidade. Lembra de alguns como Humberto, João Mendes, Ceará, Zé Augusto, Manezinho do Combate, Palaca, Dedé, Zé Picolezeiro e muitos outros. Quando os carrinhos saíam pela cidade famílias abriam as portas e as crianças sempre traziam uma bacia na esperança que algum adulto pagasse a conta. Almir lembra que alguns faziam uso de uma buzina para atrair compradores e muitos usavam a própria voz e com pose de tenores quase gritavam: "Chegou o rei do picoléééééé!!!" Nos dias de hoje, a presença destes trabalhadores é em pequeno número e Almir faz questão de lembrar que na atualidade até nas farmácias são vendidos esses produtos. Mas as maravilhosas barrinhas geladas continuam a ser consumidas por crianças e adultos. Este dedicado profissional lembra de alguns acontecimentos no exercício da profissão como um incêndio que aconteceu no Mercantil Cícero Bezerra vizinho a lanchonete no ano de 1984. Como era um dia de domingo e o mercantil se encontrava fechado, Almir e seus colegas de trabalho tiveram que abrir as portas daquele estabelecimento comercil de qualquer jeito para apagar aquele fogo que poderia ter causado sérios problemas na vizinhança. Saborear picolés preparados pelo Almir é lembrar da nossa feliz infância naquele Quixadá que não esquecemos quando andávamos descalços, pulando e brincando sem se importar com as cobranças que os relógios fazem sobre os adultos. É lembrar dos passeios até o Cedro, pegando mangas espalhadas pelo chão e ficar com medo olhando para aquele monstrinho chamado "Marchambomba" que deixaram fora da estrada, na verdade, uma carreta com rodas de ferro, movida a vapor que transportava material para a construção do majestoso açude do Cedro. Os que hoje moram distante de sua querida terra natal ainda guardam na boca o gosto daquelas barrinhas de gelo preparadas pelo dedicado trabalhador. Nos seus 42 anos de batente, Almir não amealhou bens materiais mas pode sentir o carinho e respeito que as pessoas devotam a sua pessoa pois, certamente, personifica na sua vida simples o caráter, a honestidade. Tanto tempo de trabalho, nenhum deslize e só faltando quando a saúde não permitia que exercesse suas atividades. Arrisco perguntar se apenas os que têm mais podem se considerar verdadeiramente ricos? Talvez, nesta sociedade  que exalta mais o "ter" do que propriamente as virtudes do homem simples e correto, isto realmente funcione. No entanto, mais feliz que os outros, acho que não. Feliz mesmo é quem pode desfrutar das colheitas semeadas com muito esforço. Poderia afirmar mesmo sem entender nada de psicologia que o nosso amigo Almir vive o que podemos chamar de alegria sincera, ou seja, ser feliz com o pouco que tem. Não merece nosso aplauso um profissional que só vive para o trabalho e executando as tarefas com total dedicação e honestidade? Almir na sua bondade e simplicidade nem imagina o grande valor que tem. Ele é um símbolo da cidade, na verdade, assumindo a condição de um tipo popular que até divulga a a terra dos monólitos. Afinal, não é difícil um visitante perguntar: "Onde se saboreiam os picolés preparados pelo senhor Almir? " Ele nos mostrou que enfrentar os desafios da vida requer coragem, determinação, enfrentamento dos mais diversos problemas. Já passou o tempo de homenagearmos este profissional que no duelo "Dinheiro X Valores Morais" fez vencedor a segunda hipótese. Essas pessoas nos conseguem fazer um bem inexplicável pelo jeito como vivem e nos fazem sorrir. Que graça teria nossa vida sem convivermos com estas pessoas maravilhosas? Almir só plantou o bem e por isso colhe todo este carinho dos seus irmãos quixadaenses. Gosta de ser solidário dentro de suas possibilidades. Só não lhe peçamos para  contar o segredo do preparo dos seus apreciados picolés. Isto, ele não conta para ninguém! Os brechadores de minha coluna podem ter certeza de uma coisa: Estamos valorizando uma pessoa certa! O Almir realmente merece os aplausos de todos nós!

       

Qual o segredo do inigualável sabor dos picolés preparados pelo Almir?
Fred Capistrano(novo administrador) e Almir
Almir é uma pessoa muito querida na terra dos monólitos
Nivaldo foi o responsável pela presença do Almir na famosa sorveteria