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Manuel Onça nos dá a certeza da dignidade presente em todas as profissões |
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Manuel e sua deusa Luisa |
<>As ruas de nossa bela Quixadá não são tão desprovidas de poesia e apesar dos problemas tão presentes como, por exemplo, a violência nos dias atuais, não deixam de ter seu encantamento. Almas povoadas de bondade e de uma sempre presente vontade de trabalhar acabam se constituindo em pessoas muito queridas e não obstante a simplicidade da profissão que exercem se tornam respeitadas e admiradas na comunidade. São Trabalhadores humildes e nunca querem mais do que o necessário para a sua sobrevivência e quando é possível até estender as mãos para aqueles mais necessitados. O valor destes cidadãos não são avaliados por bens materiais mas pela honestidade, caráter e uma imensa vontade de levar alegria as pessoas. Trabalhando sempre com roupas modestas mostram que a simplicidade é uma coisa divina e que a todos fascina. Francisco Manuel Germano, o popular "Manuel Onça" é um desses privilegiados se destacando por realizar um trabalho honesto e em todos dias conquistando mais amizades. Há mais de cinquenta anos ele exerce a atividade de lustrador de carros e sua presença nas ruas de Quixadá e de outros trabalhadores nos fortalece pelo exemplo que dão ao mostrar que o trabalho, a força de vontade e a correção no exercício da profissão tornam a nossa vida mais interessante. Quando os quixadaenses vão as ruas para suas rotinas é difícil não dar de cara com aquele senhor lavando carros com tanto profissionalismo e cuidando com tanto zelo como se eles fossem de sua propriedade. O seu principal local de trabalho é nas proximidades da Câmara Municipal mas atende seus clientes em qualquer outro espaço. Manuel Onça, ainda muito criança, ajudava seu pai Francisco Germano que trabalhava como carreteiro naqueles anos 60 do século passado. Lembra de alguns colegas de profissão de seu pai como o Croinha, Miron, Henrique, Luis Carreteiro e tinha outros que já não recorda o nome. Trabalhou durante algum tempo na Prefeitura Municipal na administração do senhor José Okka Baquit(1963-1967) realizando algumas tarefas no setor que cuidava da limpeza da cidade. Durante este período foi muito bem tratado pelos secretários Dr. Sátiro, titular da Agricultura e Dr. Otávio Belisário da secretaria de urbanismo e pelo próprio chefe da municipalidade. Manuel Onça mora hoje no bairro Campo Novo e quando adolescente testemunhou o crescimento daquele espaço que naqueles anos só apresentava casas de taipa. Afirma que José Baquit ajudou do próprio bolso na construção de casas de muitas famílias. Faz questão de lembrar de alguns de seus fiéis clientes como Dr. Eudásio Barroso, Dr. Arlindo, Gonçalo, Adamastor, Aziz Baquit, Dr. Mesquita, José Páscoa, Evandro, vereadora Dadá e muitos outros. Contou ele para o colunista que alguns poucos clientes deixavam propositadamente algum dinheiro ou objeto de valor para por à prova a sua honestidade mas não ficava com rancor. Nunca esqueceu o dia em que o seu cliente e amigo Lafaiete Albuquerque lhe falou: "Não fique triste, meu amigo Onça, não é a ocasião que faz o ladrão pois este já nasce feito e você é uma pessoa corretíssima". Merece ser destacado o fato de que naquele anos 60, 70, a água utilizada por estes profissionais era retirada do rio Sitiá que era limpo até demais mas com o passar dos anos a qualidade da água foi ficando péssima. Não custa lembrar que muita gente levava seus carros para ser lavados ali próximo a ponte do Putiú e muitos profissionais deste ramo dali retiravam a quantidade necessária para nais um dia de trabalho. Com ar de uma pessoa triste fala que o Sitiá já foi referência de um rio limpo e integrado a vida da cidade. Como se fala nas canções, ao lado de um grande homem deverá existir uma grande mulher e Manuel Onça se diz muito agradecido a Deus por ter colocado no seu caminho o que ele chama de uma verdadeira deusa, no caso, a sua esposa Luisa com quem divide as alegrias e tristezas e garante que o grande segredo para uma vida a dois é sempre caminhar lado a lado sabendo encarar os momentos complicados presentes na vida de todo casal. Conheceu seu grande amor na na residência da senhora Cristina Capistrano, mãe do saudoso Zequinha Capistrano de quem se tornou um grande amigo. Mas o namoro começou mesmo numa festa de reisado que acontecia na praça José de Barros e que se constituía numa atração na terra dos monólitos. Antes de ir para a praça, Manuel e seu amigo Mourão Sapateiro foram tomar uma cachacinha no bar do Alberto da Onça e assim criar coragem para arranjar uma namorada. Foi pouco tempo de namoro com sua Luisa mas o suficiente para o surgimento de uma grande paixão. Quando os jovens apaixonados se divertiam na roda gigante do parque do senhor Pedro aconteciam beijos roubados no momento que o brinquedo alcançava o local mais alto e os dois se sentiam bem pertinho do luar. Muita gente tem curiosidade em saber de onde surgiu o apelido de Manuel Onça e ele nos contou que quando iniciou seu trabalho como limpador de carros andava bastante no carro de um motorista conhecido como Raimundo Muriçoca que percorria vários sertões de Quixadá e o pessoal perguntava a ele se tinha visto alguma onça no caminho e ele respondeu que não precisava pois já carregava uma no carro se referindo ao nosso amigo Francisco Germano. Pronto, o apelido pegou e assim é conhecido até os dias de hoje. Manuel carrega por todos esses anos um sério problema no seu braço direito motivado por uma queda que levou quando montava um jumento bem brabo(diz, com risos). Como acontecia naquele passado já bem distante correu para o seu Quinzinho que encanou o braço, mas 15 dias depois quando se encontrava na chamada ruinha(rua Juvêncio Alves) pastorando o gado do senhor Mário Ferreira sofreu uma grande queda e resolveu não mais cuidar da fratura. Manuel se diz feliz com seu trabalho e aprendeu que a vida é uma batalha diária e com muita fé e dedicação é possível ser feliz. Acostumado a encarar as adversidades na vida sempre com muito entusiasmo acaba por se constituir numa referência para todos nós e sempre lembra que é preciso ter muita fé em Deus e na vida. Trabalhadores como Manuel Onça e outros que desenvolvem atividades mais simples sofrem a invisibilidade social mas são pessoas da mais alta dignidade e suas presenças nas ruas é a certeza de que todo trabalho é digno e é tão gratificante vermos a alegria estampada no rosto dessa gente executando suas atividades como se fosse uma festa. Manuel Onça com a sua leve presença nos faz entender que as dificuldades também enriquecem a nossa vida e nos faz realmente acreditar que todos temos nosso valor, nossa importância. Tiro o chapéu para Manuel Onça e acredito que nossos leitores também façam o mesmo.
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Onça exibe com orgulho seus instrumentos de trabalho |
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Devemos acreditar naquilo que fazemos |
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Manuel Onça já é um símbolo de nossas ruas |
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