Apulco comandou o mais popular bar nos anos 70 e 80 na terra dos monólitos |
<><><><>Sempre aos domingos, já ao cair da tarde, quando me dirijo a igreja do Alto do São Francisco, passando pelo posto São Sebastião e olhando para aquele prédio ,onde, na atualidade, funciona uma oficina de motos nas proximidades do CACD, desperta em meu coração uma grande saudade da pensão da dona Adília e o bar do Apulco que situava-se no mesmo espaço. Recordo que eu e meus colegas de anos verdes gastamos parte de nossa mocidade naquele ambiente de grande alegria. Numa fotografia mental do Quixadá daquele tempo, vejo pessoas que chegavam na velha estação ferroviária e se dirigiam a pensão de Adília onde encontravam o carinho da doce senhora. Os de mais dinheiro, preferiam o Hotel Central ou o tradicional Nossa Senhora de Fátima. Aquelas canções, cheias de amarguras que chegavam no ouvido de jovens loucos pela vida e dos casais apaixonados vindas de um som 3 em 1, manejado por Apulco que com um terninho a la Bob Nelson, mais parecia um maestro de uma grande orquestra, tamanho o amor que ele tinha pela música que o transformou num grande colecionador de vinis e por isso mesmo, recebendo frequentadores não só da terra dos monólitos, mas de outras cidades. Mesmo quando a bela Quixadá já dormia, gente que comemorava por ser feliz ou alguém que chorava uma desilusão amorosa, encontrava no bondoso proprietário um grande conforto através de uma canção indicada pelo mesmo. Os belos tempos de rapaz de muitos filhos da terras dos monólitos, quando brincávamos de vida, foram curtidos ali. Nos anos 70, 80, era o grande encontro de quem vivia a noite ou parte dela. Com um jeito que transmitia bondade, ele atendia os pedidos musicais dos frequentadores e tome Nelson Gonçalves, Bienvenido Granda, Waldick Soriano, Angela Maria e muitos outros.. Um frequentador de Fortaleza pagou as despesas em dobro para ouvir "A Volta do Boêmio" durante o expediente da noite. Casais comemoravam ali suas alegrias e na sala que ficava um pouco a frente do bar, improvisavam um salão de danças e ao som do sax do Saraiva e sem se importar com a mesa do bilhar, rodopiavam e trocavam juras de amor ao som de "Lágrimas de Namorados". Antes de irem para os forrós da Aliança ou do Avante, Comercial, Balneário, AABB, passavam naquele local para saborear o que chamavam de vinho e ainda ficar nos trinques arrumando o cabelo na penteadeira que ficava no corredor da pensão. Alguns fitavam com os olhos quase em lágrimas um quadro de Nossa Senhora de Nazaré que ficava no corredor da pensão. Era a santa protetora de outra santa, Adília, que a todos conquistou com sua doçura. Segundo o conceituado professor e advogado, Marinaldo, sobrinho do Apulco, seu tio antes do trabalho no bar, pertenceu aos quadros da COELCE e percorria grandes distâncias numa bicicleta e carregando a escada para o trabalho. Ele, juntamente com seus colegas de trabalho da época, Abelardo, Zé Viana, Amorin e outros, implantou linhas de transmissão de energia até Quixeramobim. A irmã Aldenir nos relatou que ele era uma pessoa muito devotada a família e o que ganhava era para ajudar no sustento da família. Quando ele partiu em junho de 2018, deixou muito triste toda a família e quem mais sofreu com a sua partida foi o irmão preferido, Mário, que sempre na parte da noite abria a janela e dizia para sua querida esposa a ,simpática Irene, que estava sentindo muitas saudades do Apulco. Como se sabe, ele era uma pessoa que amava a noite e mesmo depois do trabalho no bar ficava até altas horas da madrugada no posto São Sebastião. Quando naquele espaço comercial o vigia faltava, era ele que ficava nesta atividade até a chegada de um novo funcionário. Sentimos muita tristeza ao lembramos daquele Quixadá que era pura poesia. Frequentar aquele bar não era desperdiçar tempo e nem cometer nenhuma loucura e sim buscar o que mais importa nesta vida que é ser feliz. Aqueles anos felizes de nossa cidade, onde estão? Enquanto tocar uma canção cheia de amor numa plataforma qualquer, jovens gastando a mocidade, pessoas procurando por um hotel, também viverá em nossas lembranças a pensão de dona Adília e o bar do Apulco.
Professor e advogado, Marinaldo, sobrinho de Apulco. |