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Hercílio e Laura- um amor escrito nas estrelas |
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Laura e o carinho da filha Graça |
<> Naquele Quixadá de sorrisos, de alegrias mil, anos 20, 30 e mais um pouquinho à frente(século passado), cheirinho de cidade do interior, um simpático e muito elegante senhor, caminhava pelas ruas parecendo conhecer todo mundo e distribuindo um sorriso de paz e esperança. Um terno branco impecável, gravatinha borboleta, chapéu arredondado, sapatos, no capricho, tornava Hercílio Bezerra de Figueredo(1898-1961), um dos grandes benfeitores quixadaenses, um homem elegante e participativo na construção de um Quixadá desenvolvido e feliz. Contrastando com aquele rigor no vestir, um homem que se enternecia ao ver crianças brincando, soltando pipas. Era, por assim dizer, um homem que transitava em todas as classes sociais da cidade. Gostava de lanchar no Café Mantiqueira e era amigo do seu proprietário, Senhor Luiz Pontes. Sempre era visto engraxando os sapatos com José Limeira, de quem se tornaria um grande amigo. Era costume fazer suas compras na bodega de Chagas Holanda, no mercado velho. Á tardinha, tendo os pássaros como testemunha, uma gostosa conversa nos bancos da praça da matriz com Paulo Holanda, Chico Correia, João Bezerra, Dário Cidade, Chico Enéas, João Bessa, Bersin Lopes, José Maria Libório, Edgardo Morais e muitos outros amigos. Esta convivência fraternal com todos o tornou uma pessoa muito querida na terra dos monólitos. Foi um homem devotado a sua fé cristã. Em todos os dias, a qualquer horário, o sacrifício de Hercílio era se dedicar aos eventos da igreja católica. Participava, em especial, das grandes festas litúrgicas, o Natal, a Quaresma e a Páscoa. Participava das procissões, sempre à carregar o andor e lembrava que elas manifestavam, publicamente, a fé em Deus e nos santos do catolicismo. Ir à santa missa, aos domingos, com toda a família, se constituía numa de suas grandes alegrias, pois sempre lembrava que estas obediências de guardar domingos e festas de guarda tornava a família pertencente a Deus, a Cristo Jesus, assim, como a sua igreja. A sua neta, Graça Figueredo, casada com o professor de Língua Inglesa, o estimado Stênio, nos contou que seu avô participava das celebrações na catedral, ainda em construção. Ele me contou, por exemplo, que grande parte da população de Quixadá ajudou o padre Luis Braga Rocha para que o novo espaço de fé se tornasse uma realidade. O Vovô me falou ainda que nas festas dos padroeiros Jesus, Maria e José, as novenas aconteciam ,campalmente, isto é, fora do templo, devido ao grande número de fiéis. Muito jovem, Hercílio sofreu bastante com a morte do padre Antônio Lúcio Ferreira, em 1915, a quem ajudava nas celebrações da missa como coroinha. Conviveu com Dom Lucas, a quem sempre devotou um grande respeito. Acompanhava as missões da igreja a cidades como Canindé, Quixeramobim e aos distritos. Participava da vida social e política da terra dos monólitos. Acompanhou, com grande interesse, a eleição do primeiro prefeito quixadaense, eleito pelo voto direto, Manoel Freire de Andrade. Em 1932, conheceu o presidente Getúlio Vargas, na estação ferroviária, quando governava o município, o Senhor Francisco de Assis Holanda. Vale ressaltar que, naqueles anos, a população participava da administração, inclusive, ajudando na parte financeira e Hercílio sempre ajudou no desenvolvimento da cidade que tanto gostava. Fazia o papel dos atuais secretários num tempo em que não se falava em equipe de governo. Colaborou, por exemplo, financeiramente, com a construção da praça Coronel Nanan, ao lado dos amigos Fausto Cândido de Alencar, José Caetano de Almeida, João Cândido, Cícero Moreno, dentre outros, no governo de José de Queiroz Pessoa. No começo dos anos 20, na simplicidade de uma festa de são joão, as fogueiras clareavam a figura de uma linda mulher, olhos parecendo raios de luz e que conquistou o coração daquele jovem. Seu nome, Laura Cândido de Figueredo e, naquela noite quixadaense, toda estrelada, teve início um lindo namoro e com suspiros ao luar. Como era belo o namoro à moda antiga! A partir, daquele momento, começou uma das mais belas histórias de amor. Parecia até que estava escrito nas estrelas! No dia 31 de julho de 1921, Hercílio e Laura casaram-se pela lei de Deus e, desta bendita união, nasceram os filhos Narcílio(foi funcionário do Banco do Brasil), José Bezerra(comerciante), Cândido de Figueredo(comerciante), Manuel Bezerra de Figueredo(Neco), oficial da PM, Francisca de Figueredo(Bibia) e Maria Teresa(professora). Os filhos eram uma benção na vida do querido casal e, a eles, ensinou, em primeiro lugar, a seguirem os caminhos de Deus e, ainda, amar e respeitar todas as criaturas. Sempre fez questão de lembrar que a família é o bem mais precioso de que dispomos. Devotava um grande carinho aos netos e, assim como a esposa Laura, os considerava como uma recompensa de Deus. Falava para os amigos que eles o tornavam mais jovem e eram ,como estrelas, fazendo brilhar a sua vida. A fisioterapeuta Graça Figueredo lembra que "O vovô, apesar de seu jeito, sempre muito sério, fazia de tudo para nos agradar e quando mamãe determinava que ninguém ia para a sessão de filme no "Cine Yara", ele interferia e ela acabava concordando". Gostava de receber os amigos em casa para uma boa conversa ,em especial, aqueles mais próximos como Raimundo Gomes de Oliveira(Raimundinho), Juca Gomes, Francisco Cavalcante Costa, Pedro Júlio, Zé Acioly, Chico Enéas, Juarez Enéas, Fausto Cândido, Padre Luis, Francisco Cavalcante Costa, dentre muitos outros. Ficava feliz com a visita da professora Baviera Carvalho e suas irmãs Robéria, Elba, Itamar, Maura e Maria. Vibrava de alegria ao receber aquelas divinas rosquinhas feitas pelas mãos de fada de mãe Sinhá. Dotado de uma grande inteligência restaurava armas antigas de colecionadores ,cuidando, como se elas fossem peças de arte. Era especialista na restauração e recuperação de relógios antigos, sendo bastante requisitado para essas atividades. À tardinha, cadeira de balanço na calçada, junto com a família, ouvia as valsas que mais lhe agradavam o coração como
"Branca", "Aurora", "Saudade de Ouro Preto" que pareciam coisas de anjos, mas vinham do Serviço de Alto-falantes do Mestre Adolfo. Com muitas recomendações, ele e sua doce Laura pediam que os netos Graça. Dadá, Augusto César não fossem até a praça. Brincar de roda ou de corda, só na calçada de casa. Cedo da noite, aquela feliz família se recolhia, se despedindo dos amigos e das poéticas conversas. Hercílio colocava o chapéu na chapeleira e, todos juntos, faziam a última oração do dia. Antes de ir para o quarto, aquele bom homem pedia a Laura que fosse até a cristaleira, onde ficava um gramofone e aquelas santas mãos davam corda no aparelho e, juntinhos, como nos tempos de namoro, ouviam canções celestiais. Depois de cumprir sua missão, aqui na terra, Hercílio foi chamado por Deus para outras missões, em 1961, deixando na sua passagem, entre nós, o exemplo de pai e avô amoroso, esposo e amigo. Ficou um vazio que, somente a resignação ao que Deus determina, é capaz de preencher.
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Francisca de Figueredo(Bibia) e linda criança Graça |