Numa dessas tardes quentes(e bota quente nisso!), caminhava pela tranquilas ruas(já não tão tranquilas assim!) do meu Quixadá querido, quando então percebi que do outro lado, um deficiente visual esperava o momento de atravessar à rua. Mesmo um pouco distante, pude perceber naquele semblante um ar de homem bom, pois demonstrava uma tranquilidade impressionante.Estava sozinho e sem ninguém por perto, sem cão-guia. Na verdade, os únicos companheiros eram a bengala e uma bacia, com certeza, para a colocação de algumas esmolas. Imaginei que surgia uma oportunidade(elas não voltam) de realizar uma boa ação(nem me lembro mais da última boa ação, se é que a fiz)! E também, claro, fazer média(o ser humano é vaidoso!), afinal, a rua era bastante movimentada. Me aproximei, me sentindo um soldado do bem(não do partido) e ofereci ajuda: "Deixe-me ajudar o Senhor a atravessar a rua, por gentileza!" Pensei estar abafando, dando uma aula de bondade, quando, de repente, mais que de repente, o show acabou! Terminou ali mesmo, a oportunidade de voltar a pensar no céu(dizem que sem boas ações, São pedro aplica um cartão vermelho). Terminou também minha curtíssima vida de ator. O Senhor Joaquim Francalino (é assim que todos o conhecem) foi taxativo: "Obrigado moço(quanta gentileza!), não preciso de ninguém para atravessar a rua, pois conheço todo o meu Quixadá". Para a Ciência ele é completamente cego. Mais impressionado fiquei quando alguém perguntou a localização de uma loja. E ele, nem deixou que eu abrisse a boca e explicou tudo direitinho, aonde ficava a loja, como a pessoa chegava lá. Não me senti totalmente perdido naquele momento, pois logo me veio a ideia de realizar uma matéria focalizando aquele homem simplesmente fantástico. Pedi a ele para acompanhá-lo, durante algum tempo e cada vez mais, ficava intrigado com tudo aquilo. "aqui é a rua da Caixa"; "Lá na frente o prédio da Câmara Municipal'; "Vamos lá na praça José de Barros, é bem ali, vamos!"
Tudo que estamos escrevendo nesta matéria, é a mais pura verdade! Vocês mesmos, que acompanham meu "Blog" e são brechadores de minha coluna na RC, podem testemunhar. Este homem extraordinário fica sempre ali, nas proximidades da "Rádio Monólitos". Joaquim perdeu a visão, muito jovem ainda, 21 anos de idade. Hoje, aos 66, afirma com bastante tranquilidade que perdeu a visão, não a vontade de viver. "A VIDA É A COISA MAIS BELA QUE DEUS CRIOU! NADA SE COMPARA E E ELA NÃO ESTÁ APENAS NOS MEUS OLHOS. OUVIR AS VOZES DAS PESSOAS QUE AMO, É MARAVILHOSO!" O que viria a ser mais um trabalho na vida de um repórter, transformou-se numa verdadeira aula de otimismo, de coragem, de verdade. Depois daquele dia que entrevistei Joaquim, nunca mais fui o mesmo. Ele me mostrou que os problemas devem ser enfrentados e não motivos para limitações. Mais pessoas cegos ainda quero conhecer. Aprender com elas que nos mostram que a verdadeira beleza, não é a física mas sim, a interior. Dizem(e dizem mesmo) que é muito feio um homem chorar. Pois, então, me desculpem mas depois de aprender tantas lições, de ouvir tanta coisa bonita, chorei como um cão que perde seu dono.
NR-nas fotos, Joaquim caminhando pela cidade e com seu amigo, Francisco das Chagas.