segunda-feira, 4 de março de 2013

JOAQUIM FRANCALINO-ELE ENXERGA COM OS OLHOS DO CORAÇÃO




Numa dessas tardes quentes(e bota quente nisso!), caminhava pela tranquilas ruas(já não tão tranquilas assim!) do meu Quixadá querido, quando então percebi que do outro lado, um deficiente visual esperava o momento de atravessar à rua. Mesmo um pouco distante, pude perceber naquele semblante um ar de homem bom, pois demonstrava uma tranquilidade impressionante.Estava sozinho e sem ninguém por perto, sem cão-guia. Na verdade, os únicos companheiros eram a bengala e uma bacia, com certeza, para a colocação de algumas esmolas. Imaginei que surgia uma oportunidade(elas não voltam) de realizar uma boa ação(nem me lembro mais da última boa ação, se é que a fiz)! E também, claro, fazer média(o ser humano é vaidoso!), afinal, a rua era bastante movimentada. Me aproximei, me sentindo um soldado do bem(não do partido) e ofereci ajuda: "Deixe-me ajudar o Senhor a atravessar a rua, por gentileza!"  Pensei estar abafando, dando uma aula de bondade, quando, de repente, mais que de repente, o show acabou! Terminou ali mesmo, a oportunidade de voltar a pensar no céu(dizem que sem boas ações, São pedro aplica um cartão vermelho). Terminou também minha curtíssima vida de ator. O Senhor Joaquim Francalino (é assim que todos o conhecem) foi taxativo: "Obrigado moço(quanta gentileza!), não preciso de ninguém para atravessar a rua, pois conheço todo o meu Quixadá". Para a Ciência ele é completamente cego. Mais impressionado fiquei quando alguém perguntou a localização de uma loja. E ele, nem deixou que eu abrisse a boca e explicou tudo  direitinho, aonde ficava a loja, como a pessoa chegava lá. Não me senti totalmente perdido naquele momento, pois logo me veio a ideia de realizar uma matéria focalizando aquele homem simplesmente fantástico. Pedi a ele para acompanhá-lo, durante algum tempo e cada vez mais, ficava intrigado com tudo aquilo. "aqui é a rua da Caixa"; "Lá na frente o prédio da Câmara Municipal'; "Vamos lá na praça José de Barros, é bem ali, vamos!"


   Tudo que estamos escrevendo nesta matéria, é a mais pura verdade! Vocês mesmos, que acompanham meu "Blog" e são brechadores de minha coluna na RC, podem testemunhar. Este homem extraordinário fica sempre ali, nas proximidades da "Rádio Monólitos". Joaquim perdeu a visão, muito jovem ainda, 21 anos de idade. Hoje, aos 66, afirma com bastante tranquilidade que perdeu a visão, não a vontade de viver. "A VIDA É A COISA MAIS BELA QUE DEUS CRIOU! NADA SE COMPARA E E ELA NÃO ESTÁ APENAS NOS MEUS OLHOS. OUVIR AS VOZES DAS PESSOAS QUE AMO, É MARAVILHOSO!" O que viria a ser mais um trabalho na vida de um repórter, transformou-se numa verdadeira aula de otimismo, de coragem, de verdade. Depois daquele dia que entrevistei Joaquim,  nunca mais fui o mesmo. Ele me mostrou que os problemas devem ser enfrentados e não motivos para limitações. Mais pessoas cegos ainda quero conhecer. Aprender com elas que nos mostram que a verdadeira beleza, não é a física mas sim, a interior. Dizem(e dizem mesmo) que é muito feio um homem chorar. Pois, então, me desculpem mas depois de aprender tantas lições, de ouvir tanta coisa bonita, chorei como um cão que perde seu dono. 
NR-nas fotos, Joaquim caminhando pela cidade e com seu amigo, Francisco das Chagas.