sexta-feira, 12 de junho de 2015

FERRUGEM- A MAIOR INVEJA QUE SENTI NA VIDA

<>Sei até demais que a inveja é uma das piores fraquezas do ser humano. Não é que seja insatisfeito com o que Deus me deu, mas humildemente confesso que, há alguns anos atrás, sofri deste ataque, desta grande fraqueza. Na verdade, nunca pensei em possuir um apartamento ou mansão de altíssimo padrão com salas amplas, espaços arborizados. Longe disso! É difícil, mas admito que morria de inveja de um mendigo que perambulava pelas ruas de Quixadá e que o chamávamos de Ferrugem.. Era irmão de Zé do Saco e ambos, mendigavam pelas ruas. Escolheu, como morada(ou esconderijo), uma gruta na pedra do cruzeiro. Uma moradia(para ele, a melhor do mundo), com a altura de 190 metros acima do nível do mar. Me colocava em seu lugar e imaginava a visão que ele tinha da bela(o amedrontava) cidade. Quantas imagens bonitas(outras nem tanto), ele podia vislumbrar lá do alto. Quantas vezes ele assistiu, nas madrugadas, jovens gastando a mocidade. Ao longe, percebia a alegria numa casa, pela chegada de uma nova vida. Viu, tantas vezes, pais de família que trocaram,por algum tempo, seus lares pelos prazeres da vida. Acompanhou o vai e vem dos guerreiros(aqueles que saem cedo para trabalhar). Evidente que também acompanhava cenas tristes, como por exemplo, um rapaz negro e pobre apanhando da polícia por ter roubado pães(seria para alimentar seu filho ou irmãos?). Achava bonito a chegada dos trens na estação. Tinha momentos de menino e juntando caixinhas de fósforos, criava seu próprio trem e falava do mesmo jeito que nós, quando crianças: "Café com pão, bolacha, não!". No descanso da tarde, percebia que a cidade crescia. De longe, contemplava gente de todo jeito, formiguinhas, ido e voltando.  Aqui da janela da minha casa, noite de lua prateada, ficava a olhar para aquela gruta(casa, para ele) e dizia para mim mesmo: "Meu Deus, ele tão pertinho do nosso satélite natural e nem é astronauta!". Percebo que a lua se esconde para mim. Ferrugem, ajoelhado, contemplava o cruzeiro do sul e rezava por nós, aqui embaixo, que tantas vezes o desprezamos. Rezava e. às vezes, conversava com a Mimosa, uma das cinco estrelas desta divina constelação. Passei algum tempo, longe de meu Quixadá querido. Quando retornei, antes de passar em casa, subi, feito um menino de calças curtas, até a gruta para ver meu doce amigo. Um senhor ao lado, falou que ele tinha sido brutalmente assassinado. Justo ali! No lar quer escolheu para viver! Fiquei sentado, por algum tempo, naquele local. Me senti o Ferrugem, pude matar um pouco da inveja que sentia. Mas algo, uma dúvida atroz, passou a incomodar e me perguntava: "Ferrugem optou por aquele lugar para realmente fazer uma morada ou estava fugindo da maldade humana?"