quinta-feira, 18 de junho de 2015

BONDINHO DO CEDRO -O MEU SONHO MAIS BONITO

<>Alcançar uma idade avançada, segundo andei me informando, significa entre tantas novas situações, sonhar com mais intensidade. Está acontecendo comigo, amigos! E esta noite sonhei um dos mais belos sonhos que já tive na vida. Sonhei que era um garoto naquele divino e maravilhoso Quixadá dos anos 20, 30. Viajar no bondinho que ia da estação ferroviária ao açude do Cedro era a maior alegria das crianças que ficavam pulando de contentamento sempre doidas para passear naquele simples transporte. Lá estava eu! E nem pagava a passagem pois era amigo de um dos boleeiros, o Doca. Quando eram os outros boleeiros Chico Cangalha e o Caolho comprava caldo de cana ao seu Antônio Camarão e levava para eles. Outras vezes, café e tapioca comprado na banca do Antônio Besouro. Ficava sentado próximo as burras e me passando por boleeiro gritava: "Corre Navalha! Corre Andorinha! Passando o bondinho na praça Coronel Nanan via vários senhores conversando nos bancos como o senhor Nilo, prefeito da cidade, Zé Laranjeiras, Chico Soares, seu Quinzinho, Dalton, Negro Velho ,Hercílio Bezerra.. Achava bonito um senhor conhecido por Beca, soltando rojões. Era festa de São João. Tinha sempre como companheiro de viagem o Pedrinho e Durvalina(onde andarão eles?) que ficavam assustados pelo fato da burra Pirreta dar pulos,ocasionando o balanço do bonde. Ás vezes, dava vontade de saltar quando via outros meninos brincando de peteca, jogo da macaca, anel ou peladas. Portas, janelas, se abriam para ver o bondinho passar. Alguém avisava que" Lá vem o caixa de fósforo!", como era chamado o menor dos bondes.Tinha gente que não conhecia, muito bem vestidos. Diziam que era de fora e vinham conhecer o belo açude do Cedro. Como toda criança também brincava tirando o quepe da cabeça dos boleeiros, puxando a bolsa dos cobradores e até recebendo os pagamentos. Mas,  tudo na esportividade. Naquele tempo, a gente não conhecia maldade.  Para ser sincero não gostava de andar no bondinho, à noite, só viajavam mais casais de namorados. Meus irmãos mais velhos diziam que o guaxinim comia meninos danados e vinham pegar no bonde e por esse motivo não viajava mais  no período noturno. Mesmo assim achava bonito os faróis à querosene, na parte da frente dos bondes. Toda viagem era uma festa. Na volta do Cedro vinha com os bolsos cheios de tamarinas e um saco cheio de mangas. Dava de presente a minha tia Baviera, minha primeira professora. Ficava contado como era bacana anda nos bondinhos para minhas irmãs Cecê e Corrinha. Como é bonita a vida no olhar de uma criança! Por onde o bondinho passava, achava tudo muito bonito. No tempo do inverno, olhava e via ao longe o rio Sitiá poeticamente correndo. Achava lindo aqueles sapinhos pulando de um lado para o outro. Confesso que gostava quando acontecia algum problema. Aí corria e pegava muitas bananas, laranjas, macaúbas nos sítios próximos aos trilhos. Ao acordar, despertado pelas minhas cachorras Linda, Nicole e Rin-tin-tin, pensei comigo mesmo: "Hoje, irei olhar o mundo pelo olhar de uma criança!" Olha amigos, façam o mesmo! É este o simples caminho da felicidade! Não deixe este mundo perverso matar a criança que existe dentro de você. Sonhar com os bondinhos foi o meu mais bonito sonho.
Bondinho do Cedro- desenho de Waldizar Viana

Quixadá nos anos 20

Praça de Quixadá no tempo dos bondinhos