segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

<>É HOJE! TÁ CHEGANDO O ANO NOVO! FELIZ 1940, AMIGOS!

 <>É hoje, daqui a pouquinho, vamos entrar no ano novo novo. Que seja bem vindo 1940. Que venha sob às bênçãos de Jesus, Maria e José. Adoramos a entrada do ano novo porque sempre vemos a nossa frente uma estrada florida por onde caminharemos rumo ao objetivo maior que é ser feliz. É certo que seguiremos nossos sonhos e novos tempos serão doces como mel. É, por fim, hora de recomeçar as conquistas. Hoje, último dia de 1939, me deu grande vontade de ir à rua, visitar meus amigos, comprar o que for possível, passear na charrete de alguns conhecidos e tudo o mais que for possível. Tive uma linda  noite de sonho com a Aninha, namorada do Jerônimo, da série radiofônica "Jerônimo, o Herói do Sertão", levado ao ar pela Rádio Nacional e que toda a família ouvia num velho rádio "Grundig". Depois do "Benção pai, benção mãe" e o pai-nosso para entregar o dia a Deus todo poderoso, fui gastar minha mocidade pela querida cidade. Não podia faltar o banho no açude do Cedro. Que linda felicidade era apanhar e comer, ali mesmo, gostosas mangas que apanhávamos aos montes pelo caminho. Peguei carona na bela carroça do senhor Júlio Carroceiro que me deixou na praça principal da cidade. E, então, comecei a caminhar pelas ruas de minha Quixadá tão querida. De calças curtas, via aquilo tudo com uma alegria indescritível. A barbearia do senhor Júlio apresentava um grande movimento mostrando, assim, que aquela gente queria entrar bem elegante o ano de 1940. Sempre gostei da rua do Prado e lá num restaurante que tinha o nome de Tirol, saboreei uma super panelada, preparada pela dona Diolinda. Ali perto, achava bonito as pessoas carregando latas d'água na cabeça que pegavam nos tanques localizados naquela rua.  Corri para o mercado porque tinha que comprar umas coisas para mamãe na bodega de Chagas Holanda que me tratava muito bem. Pediu que eu comprasse uns 2 quilos de carne no açougue de Zé Medonho. Caso faltasse, no ponto do Zé Laranjeiras não faltava de jeito nenhum. Passando pela praça da igreja matriz, ficava admirando aquelas pessoas com uma conversa bonita nos bancos da praça. Não me metia na conversa, pois tinha muito menos idade do que eles. Via Chico Correia segurando uma máquina fotográfica;  Paulo Holanda falando de gado, de viagens que fez por este mundão de meu Deus; Dário Alves Cidade, sempre muito inteligente, falava sobre o perfil do presidente Getúlio Vargas; José Maria Libório gastava sua alegria com todos que passavam. Ficava olhando aquela sua linda bicicleta, a mais linda desse mundo. Na passagem do prefeito José de Queiroz Pessoa que se dirigia ao lindo prédio da Prefeitura, todos o cumprimentavam e ele retribuía com muita fineza. Na mercearia do senhor Quinzinho, conheci dois jovens vereadores, Aziz Baquit e José Páscoa que me desejaram feliz ano novo. Morria de inveja daquela gente que tomava banho num banheiro público e dava vontade, mas o preço era salgado para mim. Mas, Deus, que a tudo vê e nos conforta, tornou possível o surgimento de uma grande amizade com um senhor mudo que enchia as caixas. Aí, quando o proprietário, Samuel de Oliveira, dava uma saidinha, eu, com pose de bacana, ia para o banho. As pessoas que me viam com aquela toalha, imaginavam que aquele rapazinho era do society da terra dos monólitos. Tinha que ser feliz neste último dia do ano de 1939. Sempre andando pela cidade, não sabia o que era cansaço, e como estava longe da hora do almoço, comprei pão ao senhor José Migalha. Pão mesmo, com gosto de pão, aquele cheirinho de coisa boa! Já tinha 16 anos e ia para a estação ver algumas lindas jovens no trem de passageiros. Naquele último dia, muita animação, alguns conhecidos meus vendendo tapiocas, doces, bananas, água, para os que chegavam ou partiam. Ficava morrendo de alegria quando os maquinistas eram os amigos de mamãe, como por exemplo, Chagas de Aquino e Antônio Mesquita. Como presente de entrada de ano novo, o Chagas deixou que eu entrasse na velha maria fumaça e parando para descer só depois da velha ponte do trem. Ninguém achou ruim, todos queriam bem uns aos outros, mesmo sem conhecer. Hora do almoço, rezei junto com os meus, um Pai-Nosso, antes e depois. Neste último dia do ano, resolvi não dormir no período da tarde, queria ver, participar daquela alegria, da esperança de todos num feliz novo ano.. Não demorou muito e chegou o período da noite e na boca dela, quer dizer, no começo, junto com meus pais e irmãos fomos assistir a novena de São João na residência da senhora Maria Bertoldo. depois, rumamos para acompanhar a santa missa celebrada pelo Padre Luís. À noite, na praça da igreja velha, muitas famílias, aqui da cidade e da zona rural. No Serviço de Alto-falantes Solon Magalhães, ouvia-se a voz de Carlos Galhardo cantando "Boas Festas" e as pessoas se abraçavam como se conhecessem há muito tempo. As pessoas que moravam na cidade e as poucas que vinham de fora, ficavam admirando a lapinha em frente a casa de Mestre Adolfo. Por toda a praça, banquinhas de vendas com bolos, tapiocas, aluá, diversos tipos de doces mas, o que mais gostava eram os pastéis e canudos preparado pela senhora Luísa Dantas Lopes, esposa de Adolfo.  Estava muito feliz, mas com um pouquinho de inveja dos rapazes que tinham um pouquinho mais idade do que eu, exatamente porque eles iam para um forró na rua da Matança e quem ia tocar era a orquestra do Zé Viana. Queria ir lá, dançar. Me acalmava, pois, daqui a dois anos, posso ir para onde quiser, já terei 18. Ás 21 horas, hora de voltar para casa e aguardar a chegada do novo ano. Ficamos todos na calçada da casa, parecendo ser dia, pois a lua iluminava aquele nosso lar feliz. No terreiro, as crianças com suas bonecas, os meninos com bola de meia e os adultos, falando de planos para o ano novo. De repente, um apito vindo da chaminé de uma fábrica avisava que  nascera o novo ano. Todos se abraçaram e até choravam e logo entrávamos para fazer uma rápida oração para nossos padroeiros, Jesus, Maria e José. Fui dormir feliz, pensando que logo em fevereiro, farei 17 anos. Já deitados, com muito sono, ainda ouvimos papai falar; "Vamos dormir sem medo e confiante porque o nosso galo não cantou fora de hora!". Apaguei o lampião de gás e desejei, rezando de joelhos, um feliz 1940 para todos. Feliz 1940, amigos!!!



A entrada do ano novo no passado era muito animado em Quixadá
muitos quixadaenses subiam até a pedra do cruzeiro para saudar o ano novo
O monumento ao trabalhador já foi muito visitado no passado da terra dos monólitos
O açougue de Laranjeiras tinha boa freguesia


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