terça-feira, 9 de junho de 2020

SAUDADE DAS FESTAS JUNINAS NO SÍTIO DAS LILINHAS(Hoje, bairro Baviera)

Os balões de Zé Viana iluminavam as noites na terra dos monólitos
<>Como eram lindas as noites do mês de junho no sítio das Lilinhas(hoje, bairro Baviera) nos belos anos 60 que o tempo nos roubou. Saudosas festas juninas que aconteciam no terreiro da casa de meu pai, Amadeu, e de minha mãe, a doce Itamar. Na noite de São João, a lua ficava mais bonita do que nas outras noites. Ao meio dia, a lenha da fogueira já era arrumada e à noitinha era acesa por Luis Nabor, Chico Caetano,Raimundinho, Beca e Nego Véi. Em poucos minutos, as brasas estavam tinindo! Era uma noite que parecia encantada e sorrisos presentes nos lábios e coração das pessoas, não só da família, mas dos amigos vizinhos. O terreiro era enfeitado por bandeirolas multicores preparadas pelas minhas irmãs Cecê e Corrinha e pelas primas Aparecida, Angélica, Mazé. Por orientação das tias Elba, Robéria, Maura e da vizinha Ambrosina, as bandeirolas eram mergulhadas numa bacia d'água para purificar o terreiro. Eram tempos ingênuos, mas belos e cheios de bondade e esperança no coração de todos. Eu, meus primos Jonas, Raimundo, Dedé, Francisco, nos sentíamos os rapasinhos  mais importantes do lugar  ao conseguirmos saltar as fogueiras. A voz de Luiz Gonzaga, Marinês e Trio Nordestino invadiam aquele espaço  de felicidade vindos de uma pequena radiola "Philips" comprada pela tia Baviera na Zélia Modas. É necessário lembrar que antes dos festejos, aconteciam as orações de agradecimento pela colheita conseguida e pelo bom inverno. Mamãe corria para o corredor da casa e sem que ninguém visse, beijava uma medalhinha de São José. Um dos momentos mais alegres da festa se dava quando íamos a uma mesa e tínhamos a nossa disposição: Milho cozido, canjica, bolo de milho, pamonha, cuscuz. Como só gostava de milho assado, pedia ao vovô Paidete para assá-lo na fogueira. Ainda tenho na boca o gosto das batatas assadas na fogueira pela minha querida mãe Sinhá. Sob aplausos de todos, chega no terreiro, minha tia Maria(Baitinha) trazendo o Aluá que só ela sabia preparar e não dizia para ninguém o segredo, nem mesmo para suas amigas Maria Paula e Lica. Os olhos das crianças estavam fixos na linha férrea, esperando que aparecesse a figura de meu pai que trazia fogos para distribuir com todos, fosse da família ou não. Meu inesquecível pai era uma espécie de Deus das crianças, pois as tratava com muito amor e carinho. As crianças corriam para receber os traques de massa, as chuvinhas, as cobrinhas. Ah, as cobrinhas! Fiz muita gente correr pelo terreiro! Aqueles de mais idade, preferiam o foguetinho ou os rasga-latas  e ainda as pistolas. Quando a fogueira deixava de iluminar prá valer o terreiro, mamãe mandava colocar mais lenha. Lembro que lindas mocinhas que moravam aqui perto de casa(não lembro os nomes), acendiam velas que ficavam pingando numa bacia e juravam que ali aparecia os nomes de seus futuros namorados. Confesso, nunca vi nome nenhum. Jovens dançavam no terreiro e a alegria só era  interrompida quando eu e outros meninos soltávamos as cobrinhas que botavam todo mundo para correr.  Que noite colorida! De repente, aplausos, muita alegria, chegou o rei dos balões, o Pelé dos balões! Era Zé viana que chegou no terreiro com a linda criança Suzana que a todos saudava com um lindo sorriso.  Zé Viana tinha o poder de fazer a noite ficar iluminada e os seus balões faziam as estrelas sorrirem! Nunca se teve notícia que um balão feito por Zé Viana tenha caído no chão de Quixadá. Mamãe dizia que as estrelas os protegiam. Até hoje, não sei como mamãe conseguiu esta informação. Que saudades tenho das noites joaninas no meu Quixadá querido. Os tempos são outros, só a saudade é o que ficou e a certeza de que aqueles anos foram os mais felizes da minha geração. Agora mesmo, estou na janela aqui de casa na inútil espera pela passagem de um balão feito por Zé Viana.



A hora mais esperada era a hora de Zé Viana soltar os balões


Amadeu, era um "deus das crianças" e distribuía fogos para todas elas do sítio

Zé Viana, o rei dos balões em foto de alguns anos atrás com o neto Filipe, os filhos Suzana, Thiago e Francisco e seu anjo da guarda, a Lúcia 
O sítio das Lilinhas era muito alegre nas festas joaninas
<>As imagens da família pertencem aos arquivos do "blog" e as demais foram retiradas da Internet