quinta-feira, 20 de agosto de 2015

DEDÉ PRETO: NUMA VIDA SIMPLES, O MODELO DE UM MOTORISTA EXEMPLAR DEDICADO À FAMÍLIA E AOS AMIGOS


Dedé Preto-doce coração de um taxista amigo
                         <>Os motoristas são os grandes responsáveis pelo transporte das riquezas de uma nação, exercendo sua atividade, tanto nas grandes metrópoles como nas pequenas cidades. Por transportar também pessoas, torna-se uma figura bastante próxima das famílias, nascendo daí uma grande interação. Além de motoristas são chamados de "chofer", "do guidom', "professor do volante e nos levam, dia e noite, aos nossos destinos.Na terra dos monólitos, um desses profissionais se destacou não só pela seriedade como exercia a profissão mas, especialmente, pela forma diferenciada como tratava os passageiros, logo conquistando a amizade de todos. José Marques da Silva, o queridíssimo Dedé Preto, ganhou um carinho, todo especial, tratando a todos com humildade e o que é isto senão uma flor plantada por Deus no jardim do coração dessas pessoas privilegiadas? Durante muitos anos, desempenhou com profissionalismo e um carisma muito especial a profissão de motorista. Quantas vezes, ligando o rádio do carro,  ouvindo alguma canção, Dedé lembrou que em casa estavam lhe esperando sua querida Maura(com certeza, com um terço sempre na mão)  e os filhos a quem tanto amava. Por instante, um olhar rápido nas imagens de São Cristovão e São Francisco seguido de um sinal da cruz, de forma rápida,  pedindo mãos firmes, olhar vigilante e apelo para que o carro, instrumento de seu ganha pão, nunca prejudique a vida de qualquer pessoa. Na cabine estava escrito "Esta é a cabine da Saudade'. Das bonitas recordações deixadas por Dedé Preto, uma tem  grande significado, exatamente o fato de sua preocupação com seus colegas de volante. Um senhor, conhecido por Fitita, tinha chegado a terra dos monólitos, vindo de paus dos Ferros(RN) e desempregado pediu uma ajuda ao querido motorista. Dedé, com aquele coração de menino, lhe ofereceu seu carro, lhe dando o dinheiro das corridas, enquanto exercia outras atividades. Sabemos que o bondoso homem também enveredou pelos caminhos da atividade comercial tendo arrendado, por algum tempo, o restaurante Itajubá, administrou posto de gasolina e alugou o velho abrigo para os "meninos" tomarem de conta. Este gosto pelo trabalho foi absorvido pelos ensinamentos dos pais Elpídio Irineu e Firmina Marques, valendo destacar que, já aos 10 anos,guiava animais que puxavam cultivadores, na fazenda São João de propriedade de Dr. Thomaz Pompeu. Mas, foi, como motorista, desde os tempos do trabalho no Curtume Belém até abraçar a profissão de taxista, no ano de 1977, que se tornou conhecido e querido pelas pessoas. Todos que conviviam com ele sempre exaltavam sua maneira afável no trato  e uma alegria sempre contagiante. Às vezes, por alguns momentos, percebia-se uma certa tristeza no olhar e perguntado o motivo, saía-se com essa explicação: "Há tantos casais sem o pão sobre à mesa para alimentarem seus filhos e isso me entristece'. Mostrou sua grandeza de caráter ao continuar como taxista, mesmo quando seus filhos galgaram espaços no mundo empresarial e da política. Dedé preto nos deixou em 17.12.2002, legando a seus filhos(Carlos Alberto, Nascimento, Gerardo, Zé Mauro, Maura, Hilário e Marcos) e netos, grandes exemplos de caráter, dignidade, amor à família e ao trabalho. Aos amigos deixou uma grande saudade só confortada pelas lembranças daquele  homem sempre sorridente e pronto a servir. Dedé Preto nunca iniciou uma viagem sem pronunciar, em voz bastante baixa, essas palavras: "Jesus seja a luz de meus olhos!"

-Imagens: cortesia da família



Dedé e Maura-amor sem limites

Estar com a família era sua maior alegria

Dedé estava sempre perto dos amigos

Uma juventude cheia de sonhos

Dedé achava lindo o açude do cedro

amor à vida, à família e aos amigos



segunda-feira, 10 de agosto de 2015

EU TAMBÉM SOU UM REI DO LIXO

A luta com dignidade sempre presente
                                           Se meus amigos me encontrarem em um dos pontos de lixo da cidade, não precisam ficar admirados ou emitindo qualquer juízo. Imploro que não pensem que estou biró(doido). Não e não! Não é em busca do ganha pão, a exemplo de bravos catadores que buscam sua sobrevivência de uma forma honesta e sem ter ainda recebido do poder público e ,também de nós, à devida atenção e respeito. Os meus pais amados, Amadeu e Itamar, me deixaram o suficiente para as três refeiçoes e bancar outras coisas. Bem, vou contar esta história para vocês. Tudo começou há uns dez anos atrás. Estava eu numa dessas caminhadas, de toda manhã, quando, uma linda senhora(nunca a vi, não a conheço) desceu do seu carrão(massa!) e falou sem querer falar: "O senhor quer o Jorge prá você? Sai prá lá, violão!!! Reagi. Essa chique madame não me conhece e já vem com esse papo. Não é o que o senhor está pensando! É que fiz uma reforma no meu apartamento e priorizei a concepção espacial(diabéisso?) e esse tal de Jorge Amado ocupa muito espaço.  Mas senhora, Jorge Amado? Isso é lixo cultural dispensável que vocês pobres(ah condenada!) têm mania de gostar. Aí pensei com meus botões: quantas coisas raras são descartadas por essa gente, meu pai celestial! Aí fiz amizades com muitos catadores e acertei com eles que pagaria o que eles encontrassem  deste tipo de material. Minha casa continua do mesmo jeito, mas dar gosto receber visitas, em especial de jovens, em buscas de jóias, verdadeiras pérolas encontradas no lixo. O meu colega de tempos de Colégio do Padre, o Paulinho da Dida, quase pira quando lhe mostrei o disco "Acabou Chorare" de 1972 e me falou que era uma referência em pluralidade musical. Me ofereceu uma boa grana e quase eu caía nessa devido o estratosférico valor da minha atual conta de luz. Mas, o velho e teimoso coração falou bem mais alto. Já estAVA pensando nos caras trepados no poste cortando a minha luz, mas não vendi. Nessas horas, recorro a Santa Edvirgens e até hoje, nunca me faltou. Certa vez, um professor universitário queria levar, de qualquer jeito, o álbum "clube da Esquina", de 1972, gravado por Milton e Lô Borges. Não cedi porque adoro a capa deste disco, aquelas duas crianças sentadas numa estradinha me emocionam muito. "Chega de Saudade" encontrei num camburão de lixo, perto da rodoviária, em Fortaleza.  Confesso não entender muito  a música de João Gilberto mas sei do valor imenso deste vinil. Digo a vocês que veio um casal do Crato, no ano passado, comprar, por qualquer preço, este disco. Falaram que faz parte da história deles. Para acalmá-los copiei um "cd" com as canções originais e eles saíram felizes e ganhei de presente um jantar num desses modernos hotéis da linda Quixadá. Incrível! Apareceu um professor(acreditem, professor!) perto do hospital do exército, na minha amada capital, falando que odiava Machado de Assis e lançou no muro várias obras do bruxo do Cosme(por que ele me odeia, talvez o gênio perguntou em algum lugar do espaço mas, certamente, entendendo as reações humanas, no que era craque). Ora, peguei tudo e adentrei no "Circular" e desci na rodoviária. Estava de bem com meus astros pois, apareceu o velho amigo Aírton do Choró e me deu aquela carona. O meu colega catador(também sou) Daniel do Monte Alegre, um amigo especial, encontrou e me repassou um achado inusitado: um volumoso álbum contendo muitos santinhos de pessoas que partiram desta para a melhor(ou pior?). Este material é de grande utilidade para se contar um pouco da história de muitos quixadaenses que se chamam saudade. Numa certa manha, apareceu um senhor e, com muita raiva, jogou no lixo várias imagens de Nossa Senhora. Fiquei a pensar, que mal ela lhe teria feito. Dela, ouvi dos meus pais e muitos amigos, tratar-se de uma mãe amorosa, grande mulher da história. Os alfarrabistas(caras que vendem livros usados) sempre me procuram com o objetivo de comprar esses tesouros sempre recebendo um sonoro "não". Esses senhores falam que eu não levarei nada mas, argumento que muitos jovens utilizam meu material. Depois, quando falecer, finar-se, bater a biela, à caçoleta, as botas ou sei lá o quê, podem vender tudo. Agora, não senhor! Agradecendo a sua bondade e paciência por ter lido esta minha história, paro por aqui, lhes dizendo, amigos, que encontrei muitas coisas de valor nos lixões, mas nada comparável a dignidade presente, a riqueza da decência desta gente que busca no que é descartado pela riqueza e luxo,  condições para a sua sobrevivência. Lutam pela vida com honestidade e só lembrados em tempos de eleições sendo abraçados(abraço de verdadeiros Judas). Me envergonho, choro até, ao lembrar que, num passado já distante, os via como mendigos ou marginais. Mas, nunca é tarde para abrirmos mãos de nossos preconceitos. Hoje, me orgulho em dizer que também sou um deles! Eu também sou um rei do lixo! Não sei se mereço tanto, amigos!
-Imagens retiradas da Internet









quinta-feira, 6 de agosto de 2015

ANANIAS DOS PORCOS-NUM MODO DE VIDA DIFERENCIADO MOSTROU TODO SEU AMOR PELOS ANIMAIS

Ananias dos porcos-um grande amor à causa animal

Ananias e Maria de Deus-30 anos de um grande amor
<>"Tá na hora da ração minha  Rainha!;  Vamos tomar a vacina Faixa Branca!";  É hora do banho Brigite!". Era desta forma bem carinhosa que Ananias dos porcos, um dos tipos populares mais conhecidos da terra dos monólitos tratava os seus suínos, na verdade,  animais de estimação e que recebiam cuidados básicos e, é claro, muito carinho. Só chegou a vender alguns pelo fato de sua criação ter atingido mais de duzentos animais e ademais, a cidade crescia a passos largos, muitas residências foram surgindo e tornou-se quase impossível a presença de pocilgas na zona urbana. Chamava a atenção os cuidados que Ananias dos porcos dispensava aos animais. Nos seus chiqueiros improvisava telhados, pois um veterinário falou que eles poderiam sofrer queimaduras. Aqueles que têm mais idade lembram que era seu costume colocar um rádio com um volume nas alturas para, segundo ele, evitar que ficassem estressados. Dizia, mas só para os mais próximos que os porcos só gostavam de ouvir Luiz Gonzaga. Sua paixão pelos porcos era(e é) tão exagerada que chegou a levar seus suínos para as festas de São Francisco e afirmava que ele era o protetor dos animais. Mas, atendendo  apelos dos padres, deixou de fazê-lo. Cuidava com bastante zelo de todos os suínos, mas tinha um carinho toda especial com um que recebeu o nome de Rainha. Jurava, por todos os santos deste mundo(e do outro também) que era um animal inteligente, além de muito amigo. Ainda hoje, lembra com lágrimas nos olhos,  o dia em que Rainha foi atropelada por um trator. Hoje, aos 86 anos, Ananias Antônio de Oliveira, seu verdadeiro nome apenas lembra com muita saudade de Rainha e de todos os outros suínos. O amor pelos animais vem desde os tempos de infância em Capistrano, onde nasceu e aprendeu com os pais Vigorvino e dona Antônia Alves. Este pacato cidadão veio jovem para Quixadá, na década de 50, do século passado, em busca de trabalho. Assim que as densas nuvens de vapor saíam da chaminé da Maria Fumaça e cobriam a estação de Quixadá, anunciando a sua chegada, o jovem Ananias, logo ao descer, foi pedir emprego. E nem andou muito, pois próxima a estação ferroviária se localizava a padaria do senhor Cisne que o empregou na hora. Não demorou e logo conquistou a confiança dos patrões e sendo bastante querido pelos colegas de trabalho, ganhando a amizade do senhor Kléber Carneiro, filho do proprietário. Com o dinheiro que ganhava e, sem dizer a ninguém, ia comprando alguns suínos. Ananias já tinha experiencia no trabalho em padarias, pois aos dez anos, era operário do senhor Julio de Freitas, na sua cidade natal. Depois de alguns anos, passou a trabalhar na famosa padaria do João Pires, de quem se tornou um grande amigo. Paralelo a este trabalho, começou a montar suas pocilgas e cada dinheiro recebido, reservava uma parte para comprar seus tão queridos porcos. Todos sabem que João Pires criava um casal de leões e Ananias morria de medo que os mesmos fugissem e fossem devorar sua tão amada criação. Imaginava o rei das selvas devorando a sua Rainha. Lembra que seus colegas de trabalho riam muito disto. Hoje, Ananias já não cria mais porcos e sua única lembrança é um retrato de Rainha já amarelado pelo tempo em uma velha moldura presente na estante de sua casa. Sempre falou não conseguir entender o fato de algumas pessoas acharem estranho o seu amor pelos animais. Afirma em tom emocionado que eles são nossos irmãos de criação. Há mais de 30 anos, Ananias tem a companhia de Maria de Deus que sempre está ao seu lado em todos os momentos. Quixadá é realmente pródiga em tipos populares e suas histórias precisam ser perpetuadas. Essas pessoas com uma forma toda especial de viver à vida, na realidade, são cidadãos de bem e que se dedicam, de uma forma toda especial, à família e ao trabalho, sendo, portanto, cidadãos na expressão da palavra. Essas situações que acontecem na vida de muitas pessoas, na verdade, são provas reais de um grande amor pelas pessoas e pelos animais. Por toda esta dedicação a causa animal, Ananias dos porcos conquistou seu lugar na galeria dos grandes defensores dos mesmos, fato reconhecido por todos que o conhecem de perto e por aqueles que ouviram falar de sua doação aos nossos irmãos de criação, exatamente como ele sempre fala. Ao agradecer pela sua atenção, me despedi, mas sem antes ver uma velha fotografia de sua Rainha e um pedido: "Sempre lembre na sua coluna na "Revista Central" que os animais são criaturas de Deus! Tá certo, amigo Ananias!



Maria de Deus e Ananias dos porcos-anos 70
A porca Rainha era sua maior amiga



terça-feira, 4 de agosto de 2015

ABRAÃO BAQUIT- O INDUSTRIAL AMIGO DOS OPERÁRIOS

<><>Á tardinha, na bela e silenciosa Quixadá, os pássaros dão os último gorjeios e procuram os ramos dos galhos para dormirem. Os chorosos sinos da igreja velha convocam os fiéis para rezarem a oração da Ave Maria. Depois, a praça se enfeitava de gente para a explosão de alegria nas quermesses. A professora Baviera  Carvalho e as irmãs do colégio cuidavam do enfeite das barracas. Melodias invadiam o espaço, como se viessem do céu, mas na verdade, eram tocadas no serviço de alto falantes de mestre Adolfo e dona Luiza. Jovens gastavam a mocidade e, algumas vezes, eram repreendidos pela vigilância do Padre Luiz, sempre atento ao seu rebanho. Assim, fotografamos o maravilhoso Quixadá do anos 40, 50. Na porta de uma das fábricas "Gradvol", o seu proprietário conversa ,animadamente, com os operários que terminaram mais um dia de trabalho. Pouco tempo depois, a prosa se resumia apenas ao vigia e aquele industrial. Quem era esse cidadão  que galgou uma posição privilegiada no contexto industrial, mas jamais se afastou da convivência com os mais simples? Ele não nasceu na terra dos monólitos mas, segundo o memorialista João Eudes Costa, ele foi um quixadaense que nasceu no Oriente, tamanho era o seu amor pela terra e pela gente da linda cidade. Na verdade, Abraão Baquit nasceu em Habab, Síria, em 10.01.1893, filho de Kall Baquit e Zana Baquit. Ao chegar ao Brasil, no ano de 1924, foi residir no Piauí mas, no ano seguinte veio para Quixadá. aqui se estabelecendo definitivamente. Tudo começou com uma modestíssima loja de tecidos que, devido ao esforço e o tratamento afetivo dispensado a todos, logo se tornaria um local preferido de compras por parte das famílias. Em meados dos ano 40, quando a pacata cidade era administrada pelo farmacêutico Eliezer Forte Magalhães, Abraão Baquit adquiriu uma fábrica de beneficiamento de algodão ao Sr. Gradvol, onde mostrou  sua grande vocação para o trabalho, ganhando o respeito de todo o seguimento industrial, inclusive fora dos limites de Quixadá. Paralela à sua atividade ,como industrial, participou ativamente do cotidiano da cidade que amava muito, sempre visando o bem estar das pessoas e o seu crescimento. Antes de vir ao Brasil, morou alguns anos nos Estados Unidos e voltando a sua terra natal, casou-se em Damasco com a senhora Rosa Baquit, com quem teve 7 filhos: Alberto, José, Aziz, Maria, Albertina, Giselda e Adalberto(falecido, ainda criança, em 1940). Naturalizou-se brasileiro, sempre falando das riquezas de nosso país, mas destacando, sempre em primeiro lugar, a bondade de seu povo. O querido quixadaense(como exigia que o tratassem) pelo grande amor e carinho que o ligava a cidade, nos deixou em 15.06.1969. Um dos seus último pedidos foi que o sepultassem na terra dos monólitos. Ao seu sepultamento, além da presença da família e de colegas do setor industrial, muitas pessoas das classes mais humildes, foram dar seu último adeus aquele homem, em meio à lágrimas da saudade de um amigo muito querido e de um homem que personificou o valor do trabalho, o caráter, a bondade e a simplicidade. Qualidades absorvidas, é bem verdade, pelos filhos e netos. 
Foto: Cortesia de Angela Borges
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