<><>Á tardinha, na bela e silenciosa Quixadá, os pássaros dão os último gorjeios e procuram os ramos dos galhos para dormirem. Os chorosos sinos da igreja velha convocam os fiéis para rezarem a oração da Ave Maria. Depois, a praça se enfeitava de gente para a explosão de alegria nas quermesses. A professora Baviera Carvalho e as irmãs do colégio cuidavam do enfeite das barracas. Melodias invadiam o espaço, como se viessem do céu, mas na verdade, eram tocadas no serviço de alto falantes de mestre Adolfo e dona Luiza. Jovens gastavam a mocidade e, algumas vezes, eram repreendidos pela vigilância do Padre Luiz, sempre atento ao seu rebanho. Assim, fotografamos o maravilhoso Quixadá do anos 40, 50. Na porta de uma das fábricas "Gradvol", o seu proprietário conversa ,animadamente, com os operários que terminaram mais um dia de trabalho. Pouco tempo depois, a prosa se resumia apenas ao vigia e aquele industrial. Quem era esse cidadão que galgou uma posição privilegiada no contexto industrial, mas jamais se afastou da convivência com os mais simples? Ele não nasceu na terra dos monólitos mas, segundo o memorialista João Eudes Costa, ele foi um quixadaense que nasceu no Oriente, tamanho era o seu amor pela terra e pela gente da linda cidade. Na verdade, Abraão Baquit nasceu em Habab, Síria, em 10.01.1893, filho de Kall Baquit e Zana Baquit. Ao chegar ao Brasil, no ano de 1924, foi residir no Piauí mas, no ano seguinte veio para Quixadá. aqui se estabelecendo definitivamente. Tudo começou com uma modestíssima loja de tecidos que, devido ao esforço e o tratamento afetivo dispensado a todos, logo se tornaria um local preferido de compras por parte das famílias. Em meados dos ano 40, quando a pacata cidade era administrada pelo farmacêutico Eliezer Forte Magalhães, Abraão Baquit adquiriu uma fábrica de beneficiamento de algodão ao Sr. Gradvol, onde mostrou sua grande vocação para o trabalho, ganhando o respeito de todo o seguimento industrial, inclusive fora dos limites de Quixadá. Paralela à sua atividade ,como industrial, participou ativamente do cotidiano da cidade que amava muito, sempre visando o bem estar das pessoas e o seu crescimento. Antes de vir ao Brasil, morou alguns anos nos Estados Unidos e voltando a sua terra natal, casou-se em Damasco com a senhora Rosa Baquit, com quem teve 7 filhos: Alberto, José, Aziz, Maria, Albertina, Giselda e Adalberto(falecido, ainda criança, em 1940). Naturalizou-se brasileiro, sempre falando das riquezas de nosso país, mas destacando, sempre em primeiro lugar, a bondade de seu povo. O querido quixadaense(como exigia que o tratassem) pelo grande amor e carinho que o ligava a cidade, nos deixou em 15.06.1969. Um dos seus último pedidos foi que o sepultassem na terra dos monólitos. Ao seu sepultamento, além da presença da família e de colegas do setor industrial, muitas pessoas das classes mais humildes, foram dar seu último adeus aquele homem, em meio à lágrimas da saudade de um amigo muito querido e de um homem que personificou o valor do trabalho, o caráter, a bondade e a simplicidade. Qualidades absorvidas, é bem verdade, pelos filhos e netos.
Foto: Cortesia de Angela Borges
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