domingo, 25 de dezembro de 2022

<>AO MESTRE COM CARINHO - PROFESSOR PERI <> TEXTO DE AUTORIA DO PROFESSOR ANTÔNIO MARTINS

Professor Pery deixou saudade nos amigos e alunos

O professor Antônio Martins é imortal da Academia Quixadaense de Letras - AQL


<><><>O tradicional Calendário Cristão da Igreja Católica e Apostólica Romana que deu origem, ao compêndio intitulado de Um Santo Para Cada Dia, marcava as comemorações alusivas à Santa Luzia, mártir do início do século IV, cujas celebrações universais acontecem, anualmente, todo dia 13 de dezembro. E era noite, quando recebi notícias acerca do estado de saúde de um amigo e ex-professor. Na manhã do dia seguinte, a Terra dos Monólitos¹ chorava a partida de um de seus benfeitores. O dia 14 de dezembro de 2022, mal amanhecera e a notícia já circulara nos meios de comunicações, nas redes sociais e no boca-a-boca² da urbe, lançando sobre a população de Quixadá um lúgubre véu, com a malfadada notícia da morte do provecto professor Peri.
<><><>Nascido em Mombaça – Ceará aos 23 de abril de 1944, filho de Araão Belizário de Sousa e de Josefa Marques Benevides, recebeu na pia batismal o nome de José Peri Araújo Sousa. Ainda párvulo e até a adolescência costumava vir para Quixadá, com frequência, na companhia de seu genitor, que era funcionário da Secretaria da Fazenda e fora transferido para o escritório local. Aqui, por entre os monólitos quixadaenses, o jovem costumava passar férias entre amigos, e com mais frequência na casa do tio José Belizário.
<><><>No início da década de 1970, ingressou no magistério público do estado do Ceará como professor de Língua Inglesa, no tradicional Colégio Estadual Coronel Virgílio Távora, em Quixadá, onde exerceu a cátedra da docência por 30 anos, tendo ocupado na mesma instituição a função de diretor de turno.
<><><>A trama divina entrelaçou a vida do novo citadino ao seu primeiro amor. Foi, aqui, na acrópole do sertão central, que Peri conheceu e desposou a jovem Maria de Fátima Lopes Sousa, filha do mestre Adolfo e de dona Luísa, de cujo enlace matrimonial nasceram os filhos Araão, Maria Teresa, Francisco José e Pedro Paulo.
<><><>Apesar de ingressar na educação, ainda, sob a batuta da escola tradicional, não confundia o rigor acadêmico com o trato humano. Suas posições firmes se fizeram necessárias pela cultura da época, todavia, sempre logrou respeito, carinho e atenção de alunos, familiares, Comunidade Escolar e da sociedade local. Nutria especial obstinação pela leitura, daí, a estratégia de estimular os educandos a se aventurarem nos livros, objetivando a formação geral e cidadã dos discípulos.
<><><>Peri, durante a trajetória acadêmica, participou de organizações e lutas do Movimento Estudantil do Ceará, quando aluno secundarista em Fortaleza. Com a Lei da Anistia Política, em 1979, o povo brasileiro lutava, buscando a redemocratização do Brasil e a restauração da democracia. Neste contexto, Na década de 1980, o mestre assumiu o cargo de Delegado da APEOC – atual (Sindicato dos Servidores Públicos de Educação e Cultura do Estado do Ceará), sucursal do sertão central, cujo trabalho desafiador, (em parte tendo uma bicicleta como meio de transporte e o ônibus para percorrer cidades do entorno), trouxe conquistas para a categoria, apesar de perseguições políticas, próprias do antigo regime e de preconceitos por sua atuação em lutas e organização sindical. Por vezes, tomou posições firmes e aderiu a greves para ter direitos assegurados e garantias respeitadas. Esta atitude favoreceu o fortalecimento do ensino público, melhorias das condições de trabalho, dignidade para os servidores e cumprimento de políticas públicas educacionais e trabalhistas.
<><><>Na urbe quixadaense, cercanias e região, amealhou amizades nos diversos níveis e espaços sociais, transitando entre diferentes, sem, contudo, usar da posição de destaque para projeção pessoal e familiar. Nunca se deixou contaminar pelas ideologias, que ceifavam as relações e amizades saudáveis.
<><><>Era um entusiasta, um grande sonhador! Mas precisou superar, desde a infância, preconceitos, dentre eles o fato de perder o antebraço e metade do braço direito, em acidente automobilístico. Como se não bastasse, depois de aposentado, demonstrando, ainda, vigor físico, foi acometido por diabetes e em consequência desta, perdeu a visão. Entretanto, conforme explica a psicologia do comportamento humana, a ausência de órgão dos sentidos ou limitações de membros, levam o homem a superar e a desenvolver habilidades, que venham a compensar perdas e ausências destes. E isso ficou registrado, na vida do menino que cresceu, viveu intensamente a juventude, maturidade e envelheceu, ao lado dos seus, com qualidade de vida, sabedoria, cultura e conhecimentos alargados. Conforme os dias se passavam, o mestre se nutria mais e mais da fé cristã. E em certo reencontro, por ocasião de seu passeio matutino na Praça Coronel Nanã, de frente à sua residência, Ele me disse: “Deus restaurou a visão de Santa Luzia, realizando o milagre da cura, pela fé. E o Deus a quem Eu sirvo, hoje, estreitou minha visão física para alagar a visão espiritual. Hoje, estou em paz, estou com Deus!” Confesso que a lição de meu ex-professor, se tornou luz para minha vida. “E quem tiver ouvidos para ouvir, que ouça!” - Bíblia Sagada: (Lc 8,8).
<><><>Diante do que testemunhei, conheci e relatei acerca do bem feitor, rogo a Deus, que Eu seja, verdadeiramente, testemunha fiel para deixar registrado, um pouco do muito que este ser humano e profissional fez por Quixadá. E desejo, que a terra à qual Ele escolheu, amou e se dedicou por toda a vida, tenha a decência de não esquecê-lo no varal dos indigentes, tampouco nos anais da história largada e empoeirada. E digo isso, não porque os indigentes não mereçam respeito, mas pela condição restritiva de mantê-los no claustro do esquecimento. Rogo, que meu ex-professor, seja presença viva pelo exemplo, docência, decência e legado. E quanto a mim, neste momento, valho-me de ferramentas, que Ele me ensinou, enquanto mestre, para escrever esta crônica e deixar registrado seu legado, meus sentimentos de respeito, gratidão e pesar aos familiares, parentes e amigos, desejando que a pátria celeste, seja mais mãe e menos madrasta do que foi a terrena.
<><><>Segue em paz e busca sempre o Cristo e a luz, meu mestre