domingo, 10 de janeiro de 2016

MANOEL BODÓ-O ÚLTIMO DOS MOICANOS(QUERO DIZER, ENGRAXATE) DAS RUAS DE QUIXADÁ


Manoel bodó-sou um Pelé nesta profissão diz o simpático trabalhador das ruas
                                          Procurei, praticamente em toda bela Quixadá, talvez até para ter de volta aquela magia da cidade pequena, bonita, cheia de poesia, num tempo não tão distante assim, os velhos engraxates. Cadê esses amigos da rua? "Vai uma graxa aí, cidadão"? Ouvir, novamente isso, seria como música para meus ouvidos. Disposto a encontrar um desses trabalhadores da rua, pois resolvera usar um sapato dos tempos do "Colégio do Padre", comecei minha busca pela rua Tenente Cravo(não sei porque me dá vontade de chamá-la rua da saudade), mas não encontrei nenhum. Como não sou de desistir tão fácil ,fui pro outro lado da cidade, pois falaram que viram um menino com uma caixinha pendurada nos ombros, mas não me animei, pois o governo proibiu as crianças de aprenderem a trabalhar. Me mandei para o populoso bairro do São João e nada.  Na volta para a cidade, olhando para as pedras(pareciam estar perto de mim), me veio a lembrança de Mourão, Pé de Valsa, Manoel Chagas, Legal, Dilmar, Valdir, Geraldo Mouco, Jorginho, Sérgio, Zé Caboba, dentre outros. Certa vez, papai me falou que o engraxate mais famoso do seu tempo, era o Zé Limeira.  Me lembrei de suas ferramentas de trabalho(quando criança, achava aquilo tão bonito e até mandei fazer uma caixa de engraxate para brincar), uma flanela, uma escova e lata com graxa. Hoje, em sua maioria, esses profissionais já não estão entre nós.  Não era difícil encontrá-los debaixo das árvores da praça José Barros, nos bancos de madeira, ali próximo à estação, mas os encontrávamos em toda a cidade. Gostava muito daquela conversa amiga com o meu engraxate favorito e achava que tudo aquilo era, como um conto de fadas, poesia pura, com certeza. Lembro que ele batia na caixinha e cantava um samba de Clara Nunes e, algumas vezes,se arriscava a ser um astro circense, pois jogava o instrumento de trabalho para o alto e pegava apenas com dois dedos. Não era um Quixadá mais bonito? Como faz falta o brilho, a beleza que os engraxates traziam as nossas ruas. Estava quase anoitecendo e a sinfonia dos pardais que, se fazia ouvir na praça Coronel Nanan, denunciava o fim do dia. Bem triste, voltando para casa, com a caixa de sapatos, debaixo dos braços, me informaram que, perto do prédio da Rádio Monólitos, um simpático Senhor ainda trabalhava como engraxate. Mesmo sem acreditar no que ouvira, corri prá lá e eis que, como um verdadeiro milagre, lá se encontrava Manuel Gomes dos Santos, o conhecido Manoel Bodó. "Sou engraxate com muito orgulho!" e hoje, com quase 70 anos, quero ir mais à frente. Aquela simpatia, aquele otimismo, aquela alegria de viver, me emocionou. Lembrou que, nos dias de hoje, só tem ele e um amigo lá na praça da estação. Disse estar consciente de que, daqui há alguns anos, não se verá mais a figura do engraxate. Paguei pelo serviço e voltei para casa feliz e, muito pensativo, imaginei ser Deus um engraxate, pois, todos os dias, ele lustra no nosso peito, um coração a bater! Pelo tempo de trabalho, por ter cuidado com amor e educado seus filhos com o ofício de engraxate, pelo trabalho honesto, não seria bem legal uma homenagem do poder público ao nosso herói Manoel Bodó, que resiste aos novos tempos? Aquele abraço, amigo!
Manoel Bodó ainda tem clientes fiéis

Criei meus filhos nesta profissão

Imagem retirada da Internet
Bodó afirma que só tem ele e um amigo na praça da estação