Minha mãe era maestrina na arte de utilizar a rede de pescar |
<>Minha santa(eleita por mim e pela minhas irmãs Corrinha e Conceição) foi rainha do lar e muitas outras coisas mais, mas numa atividade ela era imbatível: Pescaria com tarrafa. O arremesso realizado por mamãe, deixava todo mundo de queixo caído. Ela arremessava de um jeito que a rede ficava toda aberta antes de cair na água. Naqueles anos 60, 70, eram frequentes as grandes enchentes que até assustavam e no rio Sitiá as águas pareciam caminhar sorrindo. A água quase batia na velha ponte que fica pertinho de nossas casas. Muita gente vinha da rua para realizar saltos na água. O cacimbão que ainda existe, ficava quase encostando na casa de Baviera. Ali era como um teatro para o show de minha mãe. Existiam poucas casas e praticamente todos os moradores iam até o local da pesca para ver a exibição de Basinha(apelido daquela que me deu a vida). Lá vinha ela parecendo uma artista sertaneja, bonita que só ela, simpática. Chegava na beira do cacimbão e sob o olhar atento da platéia(eu, Papai Amadeu, minhas irmãs, minhas tias Robéria, Elba, Maura,Maria, Baviera) meus primos Toinho, Zé Maria, Aparecida, Mazé, Angélica, Raimundo e gente que morava por perto, como por exemplo, Fransquinha(mãe da Elzeni), Cristovão, Laura, Lica, Maria Paula e outros. Ali, na beira do cacimbão, um verdadeiro Ritual. Fez uma oração para Jesus Sertanejo. Expectativa de todos! Jonas Sousa, meu primo, com a lata de sardinha narrou o primeiro lance: "Itamar jogou a tarrafa, torcida!" Amigos, juro por tudo que é de mais sagrado que, durante algum tempo, a tarrafa, toda aberta, parecia mais uma imagem do balé"Lagos dos Cisnes". Depois, "Tibungo", caiu na água. Alguns minutos e mamãe arrastava a rede que estava cheia de peixe. "Bravíssimo Itamar! Todos aplaudiam! Mamãe, mulher nordestina com ares de felicidade, agradecia a todos. Os cachorros lá de casa que eram de pobre, mas não tinham nome de peixe correram e se agarraram com a rainha da pesca. "Obrigado Capeto, Vencedor e Quarentinha!" O resultado da façanha de mamãe naquela tarde de domingo foram 3 sacos cheios de peixe. Mas, acreditem, a sua maior alegria era distribuir aquilo tudo com todos os vizinhos. Naqueles anos era assim. Tudo que se fazia nas casas, dividia com os vizinhos. Sinceramente, nunca mais vi isso. Confesso que ficava com pena dos bichinhos, mas depois de comer com farinha, adorava e esquecia por completo aquela compaixão que sentia na hora da pescaria. Lembrei do poeta Rivaldo Serrano de Andrade: "Todo mundo lamenta a desgraça que a gente passa num dia de azar, mas, se disso tira proveito, sorri satisfeito, fingindo chorar.
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